A DISPUTA IDEOLÓGICA, por Rubens Pinto Lyra

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Mangueira deu o exemplo a ser seguido (Foto: Imagem do desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro/TV Globo)

Decepcionados com a “velha política”, os brasileiros escolheram o candidato militar à Presidência sem saber ao certo qual seu projeto para o país.

Bastaram três meses, contudo, para que três em cada dez apoiadores do pretenso salvador da pátria manifestassem a sua desilusão, sendo essa deserção bem mais acentuada no eleitorado de baixa renda, segundo pesquisa Ibope.

É, sem dúvida, um alento para os que apostam na capacidade de resistência ao projeto de direitização do país, pois a rejeição ao governo tende a se agravar.

Com efeito, a efetivação da reforma da Previdência ampliará o descontentamento, atingindo diferentes setores da sociedade brasileira. Mas sua rejeição enfraqueceria ainda mais o presidente extremista, que nela aposta todas as fichas.

Por outro lado, a forte queda de popularidade presidencial contribui para o afastamento do chamado “centrão”, conforme ilustra manifestação de um de seus expoentes, Deputado Rodrigo Maia, Presidente da Câmara dos Deputados.

Agora, ele considera o governo direitista um “verdadeiro deserto de idéias”, sem projeto para o país.

Até o principal guru dos Bolsonaro, Olavo de Carvalho, afirma que, pelo andar da carruagem, o governo não durará seis meses…

A perda de consistência do governo torna o momento político particularmente favorável à resistência às suas políticas, mas ela não pode se limitar às reivindicações corporativas. Impõe-se adentrar em “mares nunca dantes navegados”.

É preciso dar ênfase à luta no terreno ideológico em que o governo assenta o projeto de implantação de uma república autoritária no plano político, ultra-liberal na economia; supostamente, o único identificado com os interesses nacionais.

Nesse diapasão, não devem passar em brancas nuvens as declarações do capitão reformado, considerando brasileiros “mal-intencionados” aqueles que emigram para os Estados Unidos ilegalmente.

Uma fala similar, na sua gravidade, às do colombiano naturalizado e Ministro da Educação Ricardo Vélez, que acusou turistas brasileiros de “canibais” e “ladrões”.

Trata-se de grave insulto à dignidade dos nossos concidadãos. No primeiro caso, a dos emigrantes, insultados porque pouco ou nada têm. No segundo, a ofensa atinge todos os brasileiros.

A questão ética também está presente nas relações espúrias que o senador Flávio Bolsonaro entretém com as milícias, especialmente com o “escritório do crime”, a que estão ligados seus antigos assessores, como Fabrício Queiroz.

Já a auto-denominada ala anti-establisment do governo, comandada por Filipe Martins, assessor da intimidade presidencial, preconiza no Twitter a necessidade de derrubar a “oligarquia”, açulando fanáticos seguidores por meio de pressão popular direta.

Ou seja, o Chefe do Poder Executivo age de forma institucional, supostamente respeitando os demais poderes, mas, nas redes sociais, os seus próprios assessores incitam os bolsonaristas à ação direta no que for necessário para garantir a vitória das teses da ultra-direita.

É “a guerra do bem contra o mal”, nela inserida a atual ocupação dos Ministério da Educação e das Relações Exteriores por anticomunistas ferrenhos, discípulos de Olavo, com vistas à eliminação do pluralismo de ideias e da liberdade de expressão, especialmente nas escolas e nas universidades.

Para enfrentar esse projeto belicoso é necessário ir “aonde o povo está”, desnudando as suas contradições e identificando-o como a antítese dos valores libertários e democráticos.

Notável exemplo a ser seguido é o da Estação Primeira de Mangueira, manifestação corajosa de recusa dos valores dominantes que desvelou a versão oficial da história do Brasil, e dos seus supostos heróis.

E, ao fazê-lo, resgatou na figura da Vereadora Marielle Franco, assassinada pela extrema-direita no Rio de Janeiro, o perfil dos verdadeiros – e atuais- heróis da Pátria.

  • Rubens Pinto Lyra é Doutor em Ciência Política, Professor Emérito da UFPB
  • Contato: [email protected]
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