Mau atendimento e médicos faltando ou encurtando jornada de trabalho. O assunto dominou ontem (28) a discussão em qualificado grupo de rede social – ao qual o blog teve acesso – sobre a qualidade dos serviços de saúde prestados pelo município de João Pessoa.
Alguns participantes do fórum de debates que se estabeleceu sobre o problema (leia alguns relatos adiante) concentraram reclamações e críticas contra o Programa de Saúde da Família (PSF), onde postos estabeleceriam determinados dias para atendimentos específicos de acordo com a idade, tipo de doença ou situação.
Procurado, Adalberto Fulgêncio, secretário municipal de Saúde, admitiu que a segmentação e o ‘calendário’ de atendimento existem de fato, mas em razão de um sistema de trabalho que deve contemplar prioridades (idosos, gestantes, crianças, diabéticos e hipertensos).
O sistema adota, sim, “dias preconizados” para os prioritários. “São pessoas com problemas de baixa imunidade, inclusive”, justificou, ressalvando: “Isso não quer dizer que alguém com sinusite, por exemplo, não possa ser atendido, atendimento esse que pode ser feito também numa Upa”.
O QUE CONTA QUEM RECLAMA
Paciente Y: “Essa é a rotina nos PSFs e UPAs de JP. Falo por experiência própria. O atendimento no PSF vai depender do dia e da doença. Na segunda-feira é um tipo, na terça-feira outro e por aí vai. Ou seja, a pessoa tem que saber o dia do atendimento de febre ou virose para ser atendido. Não pode ter febre no dia de atendimento de saúde mental“.
Paciente X: “Tem o dia de visita aos idosos, de atender às gestantes, de saúde mental etc. O dia da população em geral que sofre de algum enfermidade é o mais difícil. Se for pela manhã, tem que chegar de 5h30 pra 6h. O PSF só abre às 8h e o médico só chega às 9h. Se for à tarde, tem que estar lá de 11h30 pra 12h. O postinho abre de 13h30 e o médico chega de 14h, mas quer sair de 15h30. Por isso, não pode chegar nesse horário. Tem limite de atendimento por dia. Se você for de um bairro popular, tá lascado. Literalmente. Mandam você ir logo pra Upa porque lá não faz certo tipo de atendimento“.
Paciente K: “Eu não sei nos outros PSFs, mas se você vier no do bairro do Castelo Branco, que é onde moro, tem um calendário fixado na parede determinando o dia de cada atendimento. Se você chegar no dia do atendimento aos idosos, por exemplo, eles mostram o calendário para não lhe restar dúvidas. Não escondem de ninguém“.
Paciente Z: “Comigo ocorreu em um PSF nos Bancários. Cheguei com febre e suspeita de sinusite. A recepcionista me recebeu já dizendo que havia encerrado. Questionei pelo médico e ela disse que achava que ele já tinha ido e que era para eu chegar às 13h. Soltei que da próxima vez aviso ao vírus para agendar a hora de ele me atacar. Enfim, saí direto pra uma policlínica, paguei particular e fui, de fato, bem atendido“.
Paciente S: “Hoje pela manhã, fui fazer uns exames no Pam de Jaguaribe, onde são distribuídas 100 fichas toda manhã. Cheguei antes das 6h e na minha frente já tinham 87 pessoas, fora a outra fila dos preferenciais. São 50 fichas pra cada fila. Ou seja, se na sua fila já tem mais de 50, nem adianta esperar. Fui conversar com a mulher que era a primeira da fila e perguntei: ‘Criatura, você chegou de que horas?’ Ela disse que foi entre 4h30 e 5h, mas tem que ficar atento pra correr quando o portão abrir, pois corre o risco de madrugar e não pegar ficha“.
Incidental: “Por isso fiz plano de saúde“.
Paciente S: “Nem todo mundo tem dinheiro para pagar plano de saúde“.
Paciente Z: “Brasileiro precisa de parar de agir como adolescente. Ao invés de cobrar melhoria nos serviços de saúde pública, migra para o privado e fica com esse discurso chinfrim de que nada funciona, que tudo é ruim e se gasta muito. Pelo visto, a estratégia funcionou! Sucatearam o ensino público e a classe média migrou para o ‘pagou passou’. Sucatearam o transporte público e todo mundo comprou carro. Sucatearam a saúde pública e aí todo mundo vai pra privada. Eu não quero pagar na privada. Eu quero de volta na pública a eficiência com que me cobram impostos“.
COMO ‘FUNCIONA’ NAS UPAS
Segundo o secretário Adalberto Fulgêncio, as quatro Upas de João Pessoa trabalham com dois pediatras cada uma (a dos Bancários tem, também, dois ortopedistas) e todas dispõem de quatro clínicos diariamente. Todo o serviço de pronto-atendimento de João Pessoa estaria coberto por essas quatro Upas.
Ele diz ainda que casos mais complexos de urgência e emergência vão para o Trauminha ou para o Trauma (hospitais do município e do Estado, respectivamente, ambos em João Pessoa). De modo geral, emergência pré-hospitalar as Upas atendem, incluindo infartos. “Mas trabalham com classificação de risco, como acontece em qualquer sistema de saúde do mundo”, explica.
Fulgêncio ressalva, por outro lado, que por vezes alguém chega com uma dor de cabeça e o caso só é prioritário se a cefaleia for acompanhada de um pico hipertensivo. “Nas Upas, você pode esperar até três, quatro horas, dependendo da classificação de risco, pois não dá pra ser atendido na frente de uma gestante, por exemplo”, complementa.
O secretário reconhece que pessoas chegam com problemas e, obviamente, querem ser atendidas de imediato, “mas não é assim que funciona”. A complexidade do serviço, ensina, exige uma classificação de risco que é determinante no tempo de espera pelo atendimento. “Se você chega vomitando, com dor torácica, evidente que deve e vai ser atendido logo”, ilustra.
NAS UNIDADES BÁSICAS DE SAÚDE
Também há classificação de risco em UBS. É um protocolo de atendimento preconizado pelo Ministério da Saúde e adaptado para a realidade de cada território, expõe Fulgêncio. “É uma porta aberta, mas tem que fazer linha de priorização. Para gestante, idosos, crianças e para quem tem diabetes e hipertensão”, reforça.
Essas cinco categorias exigem maiores cuidados, atenções, mas isso não quer dizer que quem chega numa UBS sem ser prioritário não possa nem deva ser atendido. “Se não for, tem que reclamar com a gerência, levar à imprensa ou a qualquer órgão de fiscalização, sem problema”, garante.
Ele confirmou que que existem dias “preconizados” para idosos, gestantes, crianças, diabéticos, hipertensos… “São pessoas que tem problemas de baixa imunidade, inclusive. Quase que perene. Daí a prioridade. Não significa, todavia, que alguém com sinusite não possa ser atendido, atendimento que pode ser feito também numa Upa e o tratamento, numa policlínica”, ressalta.
A Prefeitura mantém seis policlínicas: uma só para idosos (o Caisi, em Tambiá) e as demais em Mangabeira, Jaguaribe, Praias, Mandacaru e Cristo. “A gente tem dificuldade de otorrino, mas é possível conseguir na rede (conveniada) uma consulta para o tratamento de doença como sinusite”, acrescenta.
JORNADA DOS MÉDICO DE PSF
Adalberto Fulgêncio informa que a carga horária do médico ou de qualquer profissional de saúde em um PSF é de 40 horas semanais. Mas… “O trabalho deles vai além do atendimento no posto. Eles têm visitas domiciliares (médicos, enfermeiros e agentes comunitários). Eles têm também um turno de planejamento, para análise da epidemiologia e dos casos prevalentes no território”, observa.
Lembra, contudo, que os médicos de PSF têm um limite de 16 a – no máximo – 20 atendimentos por dia. “O que acontece muitas vezes, quando não se encontra o médico no posto, é que hoje a gente trabalha com uma linha de prioridades muito alta. Afinal, nós passamos de 40 para 80 anos a expectativa de vida nos últimos trinta, quarenta anos”, teoriza.
O secretário estima a quantidade de idosos em João Pessoa em mais de 10 por cento da população. “Dá mais de 100 mil idosos, a maior proporção do país de pessoas com 60 anos ou mais”, calcula, afirmando que para atender a essa parcela de usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) a capital paraibana conta com 200 equipes de PSFs em uma centena de unidades básicas de saúde.
Fulgência revela que a rede municipal opera com falta de médicos em 15 postos (menos de 10% do total). Recorda e destaca que em 2013, “quando o prefeito Luciano Cartaxo assumiu”, a população de João Pessoa sofria com mais 60% dos PSFs sem médicos.
“Temos, por fim, um programa de residência médica multidisciplinar em parceria com cursos de medicina públicos e particulares. O sistema municipal dispõe de 69 médicos residentes da família. Nosso objetivo é termos 100 em 2019, se houver orçamento para tanto. Ah, e os de PSF de João Pessoa produzem 100 mil consultas por mês, na média. Nessas não estão incluídos, obviamente, os exames citológicos, procedimentos odontológicos nem as consultas de enfermaria”, arremata Fulgêncio.
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Uma resposta para Pacientes denunciam mau atendimento e médicos ausentes
Boa noite,
Lamento ter que lhe dizer que nada do que foi escrito nessa matéria mudou, pois os mesmos problemas ainda ocorrem em 2019 pelas Unidades de Saúde em João Pessoa.
Meu sentimento é de tristeza e impotência por não poder fazer nada para mudar e de me sentir como um “boi na cangalha” que tem que aceitar essa condição com a qual somos atendidos. Parece que pedimos favores a pessoas desqualificadas, grosseiras e desinteressadas pela dor alheia, o que deveria ser o contrário, pois entendo que os profissionais da saúde e funcionários públicos que trabalham com a saúde da população, deveriam ter consciências de que o povo já é sofrido e tendo este que experimentar a dor sem ter um atendimento digno e humano.