Desse jeito, debate na tevê nada acrescenta ao eleitor

Heron Cid, ao centro, ladeado (da esquerda para a direita) por Lucélio Cartaxo, João Azevedo, José Maranhão e Tárcio Teixeira (Foto: MaisPB)

De tão previsíveis os discursos, argumentos e promessas dos candidatos a governador, resolvi não gastar tempo ou emoção com o debate promovido pela TV Arapuan, de João Pessoa, na noite de ontem (13).

Posso até mudar de opinião e decisão no correr da campanha, por vontade ou necessidade. Mas, pelo que li, ouvi e vi na manhã de hoje (14) sobre o desempenho dos concorrentes ao cargo atualmente ocupado por Ricardo Coutinho, vai ser difícil revogar minha resolução.

Nada contra, obviamente, a emissora comandada por João Gregório, muito menos a mediação do competente Heron Cid, jornalista primeira de luxo, completo de tudo, como dizem lá em Bananeiras. Até por que o formato não era de entrevista disfarçada de debate e dava prioridade ao confronto direto entre os postulantes, o que me parece mais atraente como espetáculo televisivo.

Confesso, contudo, que enfaro e enfado afugentaram-me da televisão, que me faz dormir em 15 minutos se não estiver passando futebol. Optei por uma tela bem maior. Peguei sessão numa daquelas congelantes salas de cinema do Manaíra Shopping. Lineu assumido que sou, como sempre reclamei do frozen, claro, mas não adianta. Eles não ligam para o conforto térmico da clientela.

Bem, sei que pode parecer preconceituoso ou esnobe confessar desinteresse por esse primeiro debate entre candidatos ao governo estadual, mas, como disse, desde a manhã desta terça fiquei convencido de que não perdi grande coisa ou coisa nenhuma. Digo isso pelos comentários de amigos aos quais recorri para conferir se meu desentusiasmo prévio tinha razão de ser. Tinha, infelizmente.

Digo assim também baseado nas opiniões, piadas e memes sobre o debate que me chegaram através de zaps e assemelhados ou escrito de algum colega nada ou menos envolvido com partidos, campanhas e candidaturas em cartaz. Capaz, portanto, de emitir uma avaliação minimamente desprovida de paixão profissional ou ideológica por qualquer protagonista da peleja em curso.

Pode parecer estranho para alguém que se tem na conta de jornalista, mas não tenho mais saco para acompanhar amiúde os personagens centrais e fatos políticos da planície ou do planalto. Aliás, nunca tive. Se o fiz por muito tempo, nos últimos 45 anos, foi quase cem por cento por obrigação, ossos deste ofício. Jamais por devoção.

Nada contra a política. Apesar de todas as distorções, desvios e desvarios que a transformaram em objeto e alvo de ódio no senso comum e na massa ignara, como chamava o velho Nelson Rodrigues, política ainda é a melhor ferramenta de que dispõem os bons para governar bem nas democracias. Mas a escassez de bons quadros apresenta-se como realidade incontornável no cenário de agora.

Sei ainda que a ojeriza à política é obra dos maus políticos, dos maus governantes, mas nada me convence de que na atual safra de concorrentes exista alguém que me dê uma firme esperança de alguma mudança verdadeira e pra melhor venha a ocorrer na prática e nos costumes políticos há muito em voga na Paraíba. Estamos diante de mais dos mesmos ou de cópias dos de sempre.

Basta ver que o grande assunto do pós-debate foi o aproveitamento irônico, proposital, que Zé Maranhão, João Azevedo e Tárcio Teixeira fizeram da semelhança física e polifônica dos irmãos Lucélio e Luciano Cartaxo, ao ponto de meu amigo Gosto Ruim recomendar aos promotores dos próximos debates que introduzam a identificação biométrica entres os debatedores. Para que o prefeito não vá no lugar do candidato a governador do PV.

“Mas eles são tão parecidos que até as digitais são idênticas”, atalhou Potinho de Veneno, para quem Lucélio deveria ter revidado com bom humor – ou de forma altaneira, mas sem arrogância – a evidente, previsível e marqueteada desqualificação que sofreria pelo fato de ser gêmeo univitelino do alcaide da Aldeia de Nossa Senhora das Neves.

Ele podia, por exemplo, ter dito que se sentia orgulhoso – no bom sentido – por ser irmão de Luciano e que a estratégia dos adversários era tão evidente quanto deselegante, desrespeitosa até. Em vez disso, o candidato verde não se mostrou maduro para reagir à altura. Meio que acusou o golpe. Virou gozação nas redes sociais, onde circula um vídeo em que João, Tárcio e Maranhão tiram sarro de Lucélio chamando-o de Luciano.

Por essas e outras – também pelo visto, lido e ouvido de quem assistiu – não consigo eleger um vencedor desse debate. Mas sei com certeza de que já temos candidato a perdedor. Refiro-me a quem vota livre e conscientemente e sabe um mínimo do que está por trás e o que pode vir pela frente se os nomes da disputa continuarem nessa pisada.

É BOM ESCLARECER
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3 Respostas para Desse jeito, debate na tevê nada acrescenta ao eleitor

  1. Robson escreveu:

    De que adianta debate se por trás dos políticos há marqueteiros pagos para lhes aperfeiçoar na “arte” de enganar o povo? (Algo que, aliás, alguns já o fazem muito bem!). Inventar números, prometer… Como diria Jessier na música Comício em beco estreito:
    “…Aí é subir pra riba
    Meia dúzia de corruto
    Quatro babão, cinco puta
    Uns oito capanga bruto
    E acunhar na promessa
    E a pisadinha é essa:
    Três promessa por minuto.”

    Três ou mais…

    • RADAR escreveu:

      E nessa toada, o circo está montado,
      O picadeiro eles os “candidatos”,
      Transmudando os homens de bem, fazendo-nos palhaços.
      Me incomoda e eu me importo;
      O dia está chegando;
      Em outubro próximo, operação lava voto.

  2. RADAR escreveu:

    Rubão, se é que podemos chamar aquilo de debate, o formato usado foi constrangedor. Risível. Vergonhoso. Pareceu “debate” em grêmio estudantil.
    Pior ainda, os candidatos nomearam um desconhecido chamado de “projeto”, sujeito que não é nos dado a conhecer. Finalmente, cadê o(s) projeto(s) !!??

    Esses candidatos nada mais são que donos dos circos denominados de partidos, preocupados tão somente com a dinheirama do fundo partidário. E nós outros os “palhaços” obrigados a votar nos donos dos circos. Tudo é um CIRCO.