Historiador analisa novo ciclo político na Paraíba

Poderia ser ‘De Ricardo Coutinho a João Azevedo’, mas é ‘História de um novo ciclo político na Paraíba (2009-2018)’ o título do novo livro do historiador e escritor Flávio Lúcio Vieira, que traz “a trajetória dos protagonistas envolvidos nas disputas eleitorais e na construção das alianças partidárias” naquele período.

Disponível na Amazon, maior empresa do mundo do mercado online de livros, a história desse novo ciclo de lutas pelo poder é contada por um dos mais atuantes analistas da cena política paraibana nos últimos 15 anos. Professor doutor e pesquisador de História da UFPB, Flávio Lúcio destaca-se pela opinião qualificada que expôs em jornais locais e artigos que publica no Pensamento Múltiplo, seu blog na Internet.

Flávio Lúcio Vieira

A sinopse do livro ressalta que a obra registra do “vai-e-vem das alianças” aos embates pessoais e decisões “dos principais sujeitos políticos envolvidos nessas disputas”. Remete aos conflitos que levaram ao rompimento entre o atual governador e seu antecessor imediato, com o natural envolvimento dos respectivos entornos e coadjuvantes nos processos de eleição e reeleição de ambos, de 2010 a 2018.

Segundo o jornalista Rubens Nóbrega, que faz a apresentação de ‘História de um novo ciclo político na Paraíba (2009-2018)’, “quem lê Flávio Lúcio, gostando ou não do que ele escreve, admira”. Considera, para tanto, que do autor não há como desconhecer a “extrema percuciência de suas avaliações e projeções dos fatos, momentos, pressupostos e consequências do ato político na eterna cena aberta (e muitas vezes patética) da política paraibana”.

Jornalista lança na 5ª-feira biografia de Biu Ramos

Biu Ramos (Foto: Foto: Felipe Gesteira/Jornal da Paraíba)

O jornalista e escritor Samuel Amaral lança na quinta-feira (31), às 19h, na Livraria A União (Espaço Cultural, João Pessoa) o livro “Biu Ramos: o Timoneiro da Arca de Sonhos” (Editora A União, 2023). A biografia é resultado da dissertação de mestrado do autor, defendida em 2022 no Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da Universidade Federal da Paraíba (PPJ-UFPB), sob orientação da também jornalista e Professora Doutora Joana Belarmino.

Severino Ramos Pedro da Silva, mais conhecido entre os leitores como Biu Ramos (1938-2018), foi um dos grandes nomes da história da imprensa, integrante da chamada “era de ouro” do jornalismo paraibano, com atuação marcante na segunda metade do século XX. Negro, de origem humilde e com uma deficiência congênita nos pés, Ramos enfrentou o racismo e uma série de preconceitos até firmar-se como um dos mais admirados textos do colunismo político do Estado, conquistando seu lugar por sua escrita impecável e atenção às questões sociais e políticas do seu tempo.

Ramos se destacou como um dos últimos polemistas da imprensa, com passagens pelos principais jornais do Estado, como Correio da Paraíba, O Norte, A União e O Momento. Também foi correspondente de importantes jornais nacionais, como o Jornal do Brasil e Folha de S. Paulo. Além disso, ocupou diversos cargos públicos, incluindo o de Secretário de Comunicação de João Pessoa, Procurador do Estado, Secretário de Cultural do Estado, diretor da Rádio Tabajara e do jornal A União, tendo enveredado pela carreira política ao se candidatar a deputado estadual em 1986.

Dividido em dez capítulos, 408 páginas, o livro é prefaciado pelo escritor e historiador Bruno Gaudêncio e apresentado pela professora, jornalista e escritora Joana Belarmino. A publicação também comemora o aniversário de Biu Ramos, que, se vivo estivesse, completaria 85 anos em agosto de 2023.

COMENTÁRIOS SOBRE A OBRA

Em “Biu Ramos: o timoneiro da Arca de sonhos”, Samuel Amaral apresenta uma ótima narrativa biográfica. Seu texto é bem construído, objetivo, claro e coerente, demonstrando uma pesquisa profunda que se baseou no rico acervo pessoal do próprio Biu Ramos. Além disso, o autor, habilmente, inclui depoimentos de pessoas que conviveram com o biografado, adicionando camadas de autenticidade e intimidade à narrativa. A precisão e minúcia de Amaral em seu processo de apuração são admiráveis, entregando ao leitor a complexidade que foi seu biografado (Bruno Gaudêncio – historiador e escritor, prefaciador do livro).

O primoroso trabalho da Editora A União entrega ao leitor não apenas a história do jornalista Biu Ramos, mas traz a lume, o nascimento do jornalista investigativo, do jovem e persistente escavador de memórias, Samuel Amaral Veras Bonifácio, que tem a sede pela recuperação do passado da profissão e quer dar a conhecer, através da sua narrativa, os nomes e as cenas desse tempo em que o jornal do dia seguinte fazia sentido e criava opinião na Paraíba (Joana Belarmino de Sousa – professora, jornalista e escritora).

Por várias décadas, Biu Ramos registrou, com sua “metralhadora datilográfica”, os principais acontecimentos e polêmicas na Paraíba. Sua narrativa fluida e apaixonada marcou época no jornalismo paraibano com estilo próprio, conquistando muitos admiradores e desafetos. Entretanto, sua contribuição ao jornalismo ainda não foi devidamente reconhecida pelas novas gerações. A obra de Samuel Amaral corrige esta lacuna na história do jornalismo local, com um texto fundamentado historicamente, envolvente e sofisticado, próprio do jornalismo literário (Glória Rabay – professora e jornalista).

As referências sobre a história do Jornalismo ganham uma obra valiosa: Biu Ramos: o timoneiro da Arca de Sonhos, do paraibano Samuel Amaral, jornalista, pesquisador, escritor. É uma leitura que incentiva o desejo de conhecer e se espraiar pelos caminhos e métodos dos/das jornalistas que constroem o arcabouço da história paraibana. Transitar pela narrativa de Samuel Amaral nos faz compreender a tessitura de acontecimentos políticos, socioeconômicos, vividos e narrados através de uma construção textual que deságua em uma linguagem jornalística clara, simples e objetiva. Biu Ramos fez história e Samuel Amaral registrou! (Suelly Maux – professora e jornalista)

A obra intitulada ‘Biu Ramos: o timoneiro da Arca de sonhos’, da autoria de Samuel Amaral, é uma ode à vida e obra de um dos mais significativos jornalistas e escritores paraibanos, Severino Ramos Pedro da Silva (1938-2018). Sob a perspectiva teórica de Pierre Bourdieu, Biu Ramos foi um profissional em seus estados sucessivos de movimento, capaz de imprimir seu estilo marcante na imprensa paraibana e no fazer literário memorial. Ler é deleite! (Bernardina Freire – professora e presidente da Academia Feminina de Letras e Artes da Paraíba).

  • Texto de divulgação gentilmente cedido por Samuel Amaral

RAMALHO AINDA NÃO DISSE TUDO, por Rubens Nóbrega

O escritor Ramalho Leite

Agradeço de alma e coração o convite para estar aqui esta noite, para viver este momento. Agradeço especialmente ao escritor Ramalho Leite, que me dá a honrosa chance de apresentar, pela primeira vez, o livro de um autor consagrado. E logo um livro sucesso de público e crítica como esse ‘Era o que tinha a dizer’.

Confesso que não é fácil para mim vir aqui e falar em público, diante de assistência tão qualificada. Digo assim porque sou portador de crônica timidez que me acompanha por toda a vida. E é algo que só piora quando faltam ao orador uma estampa razoável e voz de boa dicção que ajudem a esconder naturais defeitos de oratória ou carência de conteúdo.

Mas não poderia dizer não, jamais diria não, a uma convocação de Ramalho Leite. E o faço tentando vencer todas as minhas inibições, mas contando com a indulgência de todos vocês que vindo aqui confirmam todas as minhas expectativas de quão bonita e acolhedora é Dona Inês, terra que visitei algumas vezes, ainda muito criança, quando vinha passar dias ou férias na fazenda Carnaúba, então propriedade de Seu Joca Barbosa e Dona Severina, meus avós maternos.

Bom, eis-me aqui escalando e forçando uma fluência e uma descontração que só desaparecem por completo quando me vejo só, diante de uma tela, de um teclado e cercado por quatro paredes. É exatamente nesse ambiente, entre quatro paredes, onde faço a segunda coisa que mais gosto, que é escrever. A primeira, lógico, é dormir.

Bem, neste ‘Era o que tinha a dizer’ o autor revela e expõe suas mais escolhidas memórias. Digo escolhidas porque, obviamente, nem todas as vivências e experiências de Ramalho poderiam ser acolhidas em apenas um volume. Teria que escrever uma trilogia, no mínimo, para comportar tudo o que esse multifacetado e criativo ser humano tem para contar.

Inclusive porque esse livro traz, em retrospectiva, a história da Paraíba e de sua gente nos últimos 70 anos. A obra reúne em suas páginas tanto as histórias dos ilustres como as histórias dos mais comuns dos mortais. Seu protagonista e coadjuvantes estão expostos em suas vidas públicas e privadas, em suas vertentes e variantes políticas, sociais e econômicas.

Ramalho experimentou todas as variações, humores e eventos do seu tempo. De um tempo que também é nosso, no papel de testemunhas ou figurantes, mas contemporâneos dele e daqueles que remanescem sobre a terra e debaixo do céu há tanto tempo quanto ele.

Daí por que, sem prejuízo de que venha a escrever os volumes dois, três ou mais da presumida série, este ‘Era o que tinha a dizer’ pode até não esgotar, mas já diz muito do homem e cidadão que atende pelo nome de Severino Ramalho Leite. Uma pessoa que botei na conta de amigo-irmão mais velho, a quem aprendi a admirar por sua inteligência, sua conhecida verve e reconhecida integridade moral.

No quesito da integridade, aliás, que soma seriedade à capacidade de trabalho em tudo a que se destina e se empenha, não há como não destacar a eficiência proativa com que Ramalho exerceu funções de Promotor de Justiça ou de Procurador do Estado. Não há como esquecer que também se destacou a serviço do público através de missões que cumpriu. Tanto com o talento de jornalista quanto com a habilidade de político que conquistou mandatos de deputado estadual e federal e postos de alta direção no Banco do Nordeste e no primeiro escalão do Governo da Paraíba.

Mas a versão escritor-barra-historiador é, sem dúvida, a melhor desse filho de Dona Eurídice e de Seu Arlindo. Prova maior é esse livro que me causa certa e boa inveja, particularmente por ter sido editado e revisado pelos queridos amigos em comum que são os inesquecíveis Juca Pontes e Martinho Moreira Franco.

Temos aqui, realmente, o melhor de Ramalho Leite. Quem ler ‘Era o que tinha a dizer’ vai se deparar com um texto primoroso de um memorialista cuidadoso, dono não apenas de uma memória prodigiosa, mas, sobretudo, de obra extremamente enriquecida por uma pesquisa criteriosa que dá brilho e consistência ao seu relato e nos fornece incríveis detalhes de uma história de vida admirável.

Tudo isso narrado com arte da melhor escrita, capaz de envolver o leitor em todas as emoções, alegrias e tristezas contadas por Ramalho, por ele vividas com todos aqueles que compõem seu entorno afetivo mais próximo e mais amado. E nesse universo, não tenham dúvidas, é onde impera a sua inseparável e insuperável Marta, que é, sem dúvida, a sua maior expressão e melhor referência. Dela própria e de Ramalho Leite.

  • Texto de apresentação do livro ‘Era o que tinha a dizer’, de Ramalho Leite, lançado na noite do sábado 19 de agosto do ano da graça de 2023, no Café Literário do Espaço da Memória da cidade de Dona Inês, Curimataú Paraibano, evento promovido pela Secretaria Municipal de Cultura

Nadezhda Bezerra lança seu novo livro em João Pessoa

João Pessoa e o Brick Tops Café, em Manaíra, foram a cidade e o local escolhidos para o lançamento presencial – às 19h desta sexta (17) – de ‘Obrigada por vir’, novo livro da escritora Nadezhda Bezerra.

“A obra, de excelência, traz uma auto ficção sobre uma gravidez condenada a não vingar”, resume a também escritora Ana Lia Almeida, que fará a mediação do evento em torno desse que é o terceiro livro publicado por Nadezhada.

‘Obrigada por vir’ é publicação da Opera Editora. Antes, Nadezhada escreveu e publicou ‘De Princesa a Estrela: a história de Sofia Fares’ (eBook Kindle, 2016) e ’45 pequenas histórias aleatórias’ (eBook Kindle, 2020).

Texto de divulgação do lançamento antecipa que além da apresentação e sessão de autógrafos do livro, Nadezhda e Ana Lia conversarão com os presentes sobre o processo de criação, técnicas de escrita “e as jornadas de uma maternidade invisibilizada pelo colo vazio”.

Escritora, jornalista e publicitária, Nadezhda Bezerra é também Mestre em Comunicação, especialista em Propaganda e Marketing, professora universitária, roteirista de cinema e produtora de conteúdo digital.

Vencedora de prêmios literários lança livro sexta, em João Pessoa

“Ogivas”, novo livro de Débora Ferraz, marca retorno ao conto, gênero com o qual estreou na literatura aos 16 anos

Débora Ferraz (Foto: Bruno Vinelli)

Autora do celebrado romance Enquanto Deus Não Está Olhando (Record, 2014), Débora Ferraz lança seu novo livro Ogivas (Caos e Letras, 2022) nesta sexta-feira, dia 15 de abril, às 16h, na Vila do Porto, em João Pessoa.

Vencedora dos prêmios Sesc e São Paulo de Literatura, a escritora volta agora ao conto, gênero no qual estreou na literatura com Os Anjos (Câmara Brasileira de Jovens Escritores, 2003), quando tinha apenas 16 anos.

“Hoje eu me sinto mais madura na escrita, com mais paciência e consciência do que faço”, diz Débora, que depois do lançamento de Os Anjos passou os anos seguintes tentando recolher o livro das prateleiras, arrependida com os primeiros textos.

“Apesar de o conto ser o primeiro gênero no qual publiquei, não foi o gênero no qual comecei a escrever nem o gênero que acho mais fácil”, complementa. Segundo a escritora, “o conto é mais desafiador que o romance em vários aspectos, exige mais argúcia, mais clareza e coragem, “coisa que a gente só adquire com alguma maturidade literária”.

Apesar de ter sido uma longa jornada para retornar ao conto, a autora afirma que sua afinidade com o romance, longe de atrapalhar, acabou ajudando na edição do livro. “O Ogivas tem em comum com um romance, que é uma certa preocupação com a temática dos trabalhadores explorados, lições equivocadas sobre estupro, balas perdidas e até aulas de ballet, com todos esses personagens e conflitos se cruzando na mesma ambiguidade do título.”

O título, no caso, veio à autora em um sonho e faz referência ao mesmo tempo à descoberta dos arcos ogivais na arquitetura, um marco na história das artes, e ao conceito de armas. “Creio que este seja um livro político no sentido mais profundo da palavra, posto que é um convite ao nosso desconforto em sociedade, ou seja, um livro violento sobre violência”.

Além do tema em comum, a forma como estão dispostos os 17 contos também emulam a formação de um arco ogival. A proposta, ressaltada no projeto gráfico de Cristiano Rato (editor da Caos e Letras juntamente com Eduardo Sabino), é que as histórias evoluam em conjunto.

“Creio que o livro ganhe ainda mais força se lido na ordem proposta, onde há contos paralelos, personagens que reaparecem num novo arco e é como se os mesmos temas evoluíssem num crescendo que culmina num último conto”, avalia Cristiano.

  • Texto de divulgação da Edícula Literária (Assessoria de Imprensa)

INSTANTES ENTRE ESTANTES, por Babyne Gouvêa

Imagem interna da Biblioteca Central da UFPB (Campus de João Pessoa), copiada do portal da instituição, que não identifica autoria da foto

“Sempre achei que o paraíso fosse uma espécie de biblioteca” (Jorge Luís Borges)

Experimentei literalmente o paraíso em vida a que se refere o venerado escritor argentino. Durante quarenta anos na Universidade Federal da Paraíba. Foi um privilégio ter vivido junto a livros e amigos, todos estimados e valiosos.

Dourados anos convivendo com eles foram fundamentais para o meu desenvolvimento pessoal e profissional. Não houve um dia sequer que me sentisse entediada no ambiente de trabalho; diariamente, seguia motivada para aquele lugar onde se encontravam colegas preciosos e alojava os meus tutores – as coleções bibliográficas.

Em alguns intervalos das atividades técnicas, costumava ir ao encontro dos meus caros aliados, impressos e armazenados em estantes enfileiradas. Procurava conhecer as obras de assuntos diversos, mas sempre parava atenta às de literatura. Percorrer as estantes das publicações constituía instantes enriquecedores, de puro bem-estar.

Impossível numerar as vezes em que ‘escapuli’ para retirar o exemplar do meu interesse da prateleira. Levava-o para uma cabine individual, e ali, tendo como pano de fundo o verde da Mata Atlântica, dava vazão ao prazer da leitura. Difícil descrever o sentimento que se apossava de mim – um real contato com as minhas emoções. Foi um vício mantido por quatro décadas.

Podia estar diante de obras já manuseadas ou recém adquiridas. O entusiasmo era o mesmo. É verdade que gostava de sentir o cheiro que o livro novo exalava. Aquele cheirinho denunciando ter saído do ‘forno’. Sim, a vontade era de devorá-lo; com os olhos, é claro.

Os locais onde ficavam armazenados eram aprazíveis demais. Existia um campo de atmosfera em seu entorno. À noite, a brisa atravessava as aberturas funcionais das paredes e contatava os leitores ávidos por conhecimentos. Sentia satisfação em ser um deles.

Muitas vezes, durante o dia, o calor se fazia presente, mas a temperatura da obra ofuscava a ambiental. Ao memorizar esses momentos, o ânimo percorre todo o meu corpo, deixando-me plena de contentamento.

Questionava quando encontrava algum livro vitimado por ações de vândalos. Ficava perplexa perguntando a mim mesma o que teria provocado aquela insanidade. Logo com o objeto responsável por nosso enriquecimento individual. Nunca consegui entender essa conduta.

Apreciava o trabalho de restauração do livro danificado. Era uma laboração minuciosa exigindo conhecimento específico. Reconfortante era vê-lo recuperado, colocado novamente à disposição dos usuários.

Obra extraviada era motivo para me frustrar. Na minha concepção, deixava de contribuir para um aprendizado coletivo e socializado, para se resumir a um conhecimento unitário.

Ah, que saudade da Coleção Paraibana! Os nossos escritores reunidos naquela sala como um rico mostruário da produção intelectual dos nossos conterrâneos ou patrícios em geral sobre a Paraíba. A atualização desse acervo era automática. As editoras se comprometiam em enviar exemplares à medida que publicavam. Gratificante mesmo era recepcionar os autores in loco.

Circular cotidianamente no universo das letras contribuiu para que gotas de sabedoria fossem depositadas em mim. Sou grata à vida por ter me dado o imenso prazer de ter trabalhado num paraíso.

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  • Homenagem da autora ao Dia Nacional do Livro, comemorado neste 29 de outubro

LENDO NO BUSÚ, por Ana Lia Almeida

Foto copiada de meuestilo.r7.com

Ao lado de Rita, um rapaz se divertia lendo um livro. Volta e meia dava umas risadinhas discretas ou parava um pouco para olhar pela janela do ônibus, pensando em algo que acabara de ler. Era um livrinho pequeno, de capa colorida, e Rita espiava com o rabo do olho para tentar alcançar um pouquinho daquilo que o rapaz parecia achar tão bom.

O moço já tinha percebido o interesse de Rita, mas fingia que não para deixá-la à vontade. Até aproximava o livro um tiquinho mais para perto dela, entre um sacolejo e outro, para que ela pudesse bisbilhotar melhor. Era um rapaz alto, bonito, cheiroso, e Rita, além do livro, também estava bastante interessada em estar perto de alguém assim.

Vinham nessa interação dissimulada há umas cinco paradas quando uma freada brusca os interrompeu. O livro, que estava nas mãos do rapaz sentado à janela do ônibus, atravessou o colo de Rita e foi parar no corredor. Ela prontamente o apanhou, passou a mão sobre a capa num gesto de zelo e, ao devolvê-lo para o dono, aproveitou para observar melhor o título: Curtinhas da Quarentena.

A senhora gosta de ler?

Rita, surpresa e acanhada, demorou uns instantes para encontrar a resposta. Ela não sabia. Contou que já tinha lido dois ou três livros quando era mocinha, antes de largar a escola para trabalhar em casa de família. O primeiro tinha bastante figura e poucas letras, então foi o que ela entendeu mais. Os outros eram grandes, por isso ela não conseguia ler de uma vez só e demorou várias semanas, às vezes se perdendo na história e tendo que voltar as páginas, o que só atrasava mais o tempo de terminar.

Isso me aperreava um pouquinho, mas, quando eu conseguia demorar mais tempo lendo, tipo meia hora direto, eu começava a gostar e não queria parar. Mas aí tinha que ajudar minha mãe na cozinha, na faxina, dar banho nos meus irmãos… E o livro ia ficando para mais tarde, quando eu já estava com muito sono e acabava dormindo de uma linha para outra. Depois que parava era difícil voltar.

E a senhora tem vontade de tentar ler de novo?

Se fosse um livrinho pequeno e fácil como esse, eu queria, porque as histórias são curtinhas e dá para ir lendo de pouquinho em pouquinho sem se perder.

Então tome esse para a senhora.