CANTIGA DE RODA, por Babyne Gouvêa

Ciranda em Itamaracá, Pernambuco (Imagem do YouTube)

Estava pensando cá com meus botões. Cadê as cantigas de roda que tanto encantaram a nossa infância? E a vida adulta também, por que não?

Final dos anos 70  fomos à Ilha de Itamaracá, Pernambuco, dançar Ciranda com Lia – personagem icônica dessa dança de roda. Juliana, nossa filha, então com seis anos, era a participante mais animada do folguedo.

Ciranda é cultura popular, notadamente no Nordeste brasileiro.
Possivelmente, a falta de divulgação sobre esta manifestação acarrete a sua imerecida desvalorização.

Nossas tradições culturais já não são as mesmas. Ou melhor, as novas gerações não alimentam o senso de tradição. Difícil pontuar os motivos não sendo uma estudiosa no assunto. Lamentar é possível.

Lembro bem de uma passagem do ex-Presidente Juscelino Kubitchek e esposa pela Paraíba, em 1972. Foram recepcionados pela família de Humberto Rabelo, na Praia do Poço, Cabedelo. Na ocasião, à beira-mar, houve uma apresentação da Dança do Coco – cultura popular de suposta origem afro-indígena, com dança, música e poesia.

A dançarina Lau, famosa por dominar a arte do Coco, deixou os convidados embevecidos. Atualmente, tenho dúvidas se essa exibição constaria em agenda de uma autoridade nacional em visita ao nosso Estado.

Algumas cantigas de roda, como Coco e Ciranda, têm ritmos de origem incerta. Há versões que creem na ascendência afro-indígena, no ambiente dos engenhos de açúcar com influências dos batuques africanos e dos bailados indígenas.

Cantigas de roda não são cantadas e dançadas como outrora. Constituídas de textos anônimos simples, as suas rimas facilitam a memorização e o aprendizado. Embalam o imaginário infantil como autênticas manifestações socioculturais populares. São brincadeiras infantis que caem no gosto dos adultos também.

Melodias folclóricas sempre participaram do meu mundo lúdico. A rua da minha infância promoveu o companheirismo entre as crianças a partir de um repertório vasto de cantigas de roda. Estendi aos meus filhos o senso de coletividade com este importante componente da cultura popular. E, como efeito dominó, eles repassam para os meus netos.

Seguimos o lema: proibido se sobrepor à cultura. Assim, fica garantida a tradição na família com vivas às brincadeiras de roda!

ALCUNHA IMPLACÁVEL, por Babyne Gouvêa

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Imagem meramente ilustrativa (Foto: br.freepik.com)

Ele saía todos os domingos, bem cedo, para assistir à missa na capela próxima à sua casa. Nos primeiros sinais do amanhecer, ele se levantava para se vestir num ritmo lento, os seus muitos anos não permitiam movimentos céleres. Tinha o hábito de chegar cedo à capela para assegurar um banco na primeira fila que lhe permitia uma melhor visão do sacerdote.

Não fazia a primeira refeição do dia porque comungava, e a religião católica exigia um jejum de três horas antes de praticar esse rito. Vestia sempre um terno de linho branco com uma flor na lapela, sapatos pretos, chapéu de feltro e uma bengala que lhe dava apoio ao andar.

A caminhada, embora curta para qualquer pedestre, para ele ganhava proporções quilométricas, pela lerdeza de sua locomoção. Com a coordenação motora comprometida, costumava arrastar os sapatos fazendo um ruído bem característico de sola gasta, atraindo a atenção da meninada que no horário de sua passagem já se encontrava fora da cama.

Estava estabelecida a zombaria a ele dirigida. Sem nenhuma noção de respeito aos mais velhos, a criançada apelava para a criatividade em nomes depreciativos jogados na direção do idoso, pois no passado havia sido padeiro e percorria as ruas do bairro empurrando o carrinho e anunciando as suas especialidades:

– PÃO DE BICO! PÃO SUIÇO! PÃO DOCE!

Com o tempo e a impaciência da velhice, anunciava todos de uma só vez:

– PÃO DE BICO, SUIÇO E DOCE!

A soma dos dois últimos pães soava assim, para a molecada, que gritava escondida:

– PÃO DE BICO SUICIDOU-SE!

Isso lhe irritava profundamente! Não suportava a galhofa, e muitas vezes não respondia com educação. Mas, para a sua irritação, o apelido pegou.

Agora já aposentado, ele não dava sinais de reação, seguia o seu itinerário de forma inabalável, muitas vezes procurando equilíbrio na mureta em torno da capela.

Dando sinais ofegantes, ele chegava ao destino dominical, sentava puxando primeiro uma perna da calça e depois a segunda perna, para acomodar de forma confortável o volume do seu corpo. Tirava do bolso da calça o lenço de cambraia branca com as suas iniciais e levava ao rosto e ao pescoço para enxugar o excesso de transpiração que o percurso lhe causava.

Começava a cerimônia eucarística e o seu semblante era de êxtase, tamanho o contentamento de ter conseguido chegar a tempo e de ter conseguido superar as tentativas infantis de lhe atrasar o roteiro. Encerrada a missa, ele fazia o trajeto de volta sob um sol causticante, obrigando-o a fazer diversas paradas para secar com o seu lencinho a sudorese excessiva escorrendo por todo o corpo.

No retorno à casa, fazendo o mesmo circuito, mais uma vez se tornava alvo do escárnio infantil, até que, depois de muitos domingos consecutivos, ao ouvir um certo cognome sendo ecoado em bom som – PÃO DE BICOOO – ele resolveu reagir – É A TUA MÃE!

Recolheu-se, então, em casa. Para sempre.

  • Babyne Gouvêa é biblioteconomista

DESCONHECIDO NA PRÓPRIA TERRA, por Aderson Machado

Areia divulga sua programação da Rota Cultural Caminhos do Frio 2019 - PB  AGORA

(Imagem: foto copiada do PB Agora)

Acontece uma coisa engraçada comigo. Sou desconhecido na cidade do município onde nasci: Areia, Paraíba.

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ENTREVISTA COM A MONGA, por José Mário Espínola

(Foto: imagem copiada do Blog do Arthur Veríssimo)

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Fulô Mimosa grava primeiro CD

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Com repertório e trabalho dedicados essencialmente à música nordestina, na qual inclui suas próprias composições, o grupo Fulô Mimosa iniciou este mês em João Pessoa a gravação do primeiro CD.

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ESQUERDOPATAS, por Fernando Horta

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Rubens Pinto Lyra lança na UFPB livro sobre Jornalismo e Cidadania

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O mais novo livro do professor Rubens Pinto Lyra – ‘Jornalismo e Cidadania: reflexões sobre a atualidade social e a política’ – será lançado quarta-feira (12) no Centro de Comunicação, Turismo e Artes da Universidade Federal da Paraíba (CCTA/UFPB), em João Pessoa.

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Coral de 500 vozes abre hoje XV Festival Paraibano de Coros

Todas as apresentações serão realizadas na Sala Radegundis, na UFPB (Foto: Divulgação)

Um coral de 500 vozes abre às 18h desta terça-feira (14) em João Pessoa o XV Festival Paraibano de Coros (Fepac). O evento será realizado até sábado (18) na Sala Radegundis Feitosa do Campus I da Universidade Federal da Paraíba.

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