A CLASSE MÉDIA RESSENTIDA, por Rui Leitão

Parte da classe média tem se organizado politicamente nos últimos anos. Porém, estranhamente, sem um ideal bem definido. Apesar de proclamar um compromisso com o fim da corrupção, é quem mais se beneficia de privilégios, aos quais se apega com muita disposição. Até porque os indivíduos que a integram trazem no íntimo um desejo muito forte de ascenderem à classe alta. Não se envergonham em se tornarem alienados e defenderem teses pautadas pelos que os oprimem. Lambem o chão daqueles que os exploram.

É comum ver esses componentes da “classe média ressentida”, comportarem-se num falso moralismo condenando atitudes que costumam adotar no cotidiano. Aquela velha história do ensinamento bíblico que diz “vê o argueiro no olho do outro, mas não vê a trave que tem no próprio”. O ressentimento desperta nas pessoas sentimentos de rancor, vingança, mágoa, melindre. Como não têm consciência política formada, submetem-se mais rapidamente aos encantos daqueles que se apresentam como “salvadores da pátria”, sem a preocupação de analisar com responsabilidade o contexto dos seus discursos. Embarcando na onda de ressentimentos, não se dispõem ao diálogo. Quando questionados sobre suas posições reacionárias, partem para manifestações raivosas no enfrentamento ao debate. Na carência de argumentos para justificarem suas convicções, estabelecem o revide zangado, tempestuoso, irritado.

Replicam, sem saber sequer o que estão falando, palavras como: “comunistas”, “bolivarianos”, “esquerdopatas”, ao classificarem aqueles que os contestam. Têm uma dificuldade enorme para lidar com a igualdade. Covardemente silenciam diante dos riscos de retrocesso que ataca os direitos fundamentais que devem consolidar nossa cidadania. Partem para a histeria e agressividade nos confrontos ideológicos ou políticos. Manipulados, não se constrangem em exercer a função de “capitães do mato da elite”. E mais, passam a odiar “pobres”, esquecendo que muitos deles já estiveram nessa escala social, ou ignorando que estão próximos de voltar para ela.

Não podemos generalizar. Entretanto, percebe-se majoritária essa afirmação da “classe média ressentida”, que adora abraçar o poder, tanto o político quanto o econômico, na ilusão de que assim garante a manutenção do seu “status quo” burguês.

  • Rui Leitão é escritor e gestor público
  • Artigo publicado originalmente na página de Facebook do autor e no Polêmica Paraíba
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2 Respostas para A CLASSE MÉDIA RESSENTIDA, por Rui Leitão

  1. Severino A Santos escreveu:

    Caro jornalista Rubens Nóbrega. Há muito esperava pelo seu retorno. Por vários meses, acessei, no vazio, o seu blog. Pensei que o nobre teria abandonado a luta. Graças a Deus, inferi equivocadamente. Desculpe-me por isso e feliz retorno. É muito bom tê-lo de volta! Assino o que você escreveu no dia 12 próximo passado, principalmente em relação ao documento encaminhado ao presidente nacional do PSB. Pelo que conheço do governador, tenho absoluta certeza de que ele não leu o texto, e se o fez, não mais poderia mudá-lo, em razão de alguma circunstância preponderante. No tocante ao assunto ali tratado, chama-me a atenção um detalhe na fala do “ex” quando o mesmo justificou a importância (=necessidade) de assumir o comando da sigla estadual, afirmando que o partido teria que assumir o protagonismo governamental. Porém, não vi nenhum “cientista” político comentar tal desiderato. Peço a reflexão e, quiçá, seu comentário a respeito.

  2. Rubens, magnifica, a crônica escrita por Rui Leitão. Exprime a “evolução” do comportamento da classe média.
    Palmas para o autor!