A OSTENSIVA PARCIALIDADE DA MÍDIA, por Rubens Pinto Lyra

William Bonner e Ricardo Boechat, mais famosos âncoras de telejornais da TV brasileira

A mídia oligopolizada não é somente parcial. Ela se coloca, clara ou sub-repticiamente, contra os que são críticos do establishment, sem espaço para o contraditório. Foi precisamente o que ocorreu na crítica ao discurso do candidato Fernando Haddad, transmitido logo após os resultados do segundo turno das eleições presidenciais.

Ao comentá-lo, os apresentadores William Bonner (TV Globo) e Ricardo Boechat (TV Bandeirantes) fizeram questão de manifestar sua estranheza pelo fato de Haddad não ter telefonado para o candidato vitorioso, Bolsonaro, nem acenado com algum gesto conciliatório.

Assim procedendo, ignoraram o caráter absolutamente atípico do confronto entre esses dois pretendentes à Presidência, em campanha marcada por ameaças constantes de Bolsonaro às instituições, órgãos de imprensa e adversários.

Entre as últimas formuladas contra as esquerdas destacam-se as transmitidas por celular a seus simpatizantes, reunidos na Avenida Paulista.

Proclamou que “eles são o Brasil de verdade”. E os que não se colocarem “sob a lei de todos nós” terão de ir “para fora ou para a cadeia”. Já os “marginais vermelhos serão banidos de nossa pátria”.

A Folha de São Paulo (objeto de reiteradas ataques de Bolsonaro) mostrou que suas declarações deixam transparecer “mais um chefe de facção que um postulante à Presidência, a destilar seu ódio vil”.

Como parabenizar alguém que sempre tratou seus adversários como inimigos da Pátria, afirma que não se relacionará com a oposição e reiterou, em pronunciamento após o resultado das eleições, ataques às esquerdas e a seus demais opositores?

Mesmo assim, Haddad desejou, pelo Twitter, no dia seguinte à eleição, sucesso ao “Presidente Bolsonaro”.

Qualquer gesto mais efetivo de diálogo teria que vir do candidato vitorioso, tendo em vista o risco de ser brutalmente rechaçado. Mas como esperá-lo de alguém que reitera a sua admiração pela ditadura e seus métodos de governo (a tortura, por exemplo)?

A grande imprensa brasileira prolonga, dessa forma, a ilusão com que entreteve os seus aficionados, ao pretender nivelar os dois candidatos quando apenas o capitão representante da extrema direita (é assim que ele é qualificado por quase todos os jornais de renome da imprensa internacional) encarna ameaça à democracia.

De forma igualmente inconsequente, a mídia do Brasil espera que agora se instaure o consenso e a reconciliação nacional, algo visceralmente incompatível com o comportamento e o programa de Bolsonaro.

Nesse diapasão, a chamada grande mídia criticou a fala de Fernando Haddad, logo após o resultado do 2º turno, uma fala supostamente voltada para os militantes do PT e aliados, quando teria que se preocupar com a do presidente eleito – e não o fez – em cujas mãos o país acaba de entregar a condução de seus destinos.

Por fim, o comentarista político da Band, José Nêumanne Pinto, tratou de desqualificar a maioria que o Nordeste atribuiu ao candidato petista.

Para ele, pasmem, o eleitorado da região é “comprado”. Assim, não só essa maioria não expressaria uma posição de esquerda como refletiria apenas a dependência dos prefeitos aos governadores.

Politizado e independente teria sido então o voto das outras regiões, favoráveis ao candidato truculento, defensor da ditadura militar?

Esse comentário xenófobo de Nêumanne contém inaceitável generalização e desconhecimento das reais mudanças no eleitorado nordestino, ainda mais lamentável por ter sido formulado por um paraibano. Não mereceu, contudo, nenhum reparo dos seus colegas jornalistas, preocupados em “dourar a pílula” do que está por vir.

As nossas esfarrapadas instituições aguentarão o tranco? E o povo, terá consciência e motivação para resistir?

  • • O autor é Doutor em Ciência Política. Professor Emérito da UFPB
  • • Contatos: [email protected]
É BOM ESCLARECER
O Blog do Rubão publica anúncios Google, mas não controla esses anúncios nem esses anúncios controlam o Blog do Rubão.

Uma resposta para A OSTENSIVA PARCIALIDADE DA MÍDIA, por Rubens Pinto Lyra

  1. Osvaldo Vicario escreveu:

    O comentário totalmente de esquerda, criticando a ditadura (regime) Militar e não citando 16 anos de corrupção e impunidade que colocou o Brasil na situação crítica que estamos, sinal que estão levando alguma ( vantagem),a maioria do povo do (bem) queremos mudança e vocês tem que aceitar, os incomodados que se mudem, o Brasil jamais será vermelho,,, à Ele está preso !!!