Armas com defeito ameaçam a vida de policiais na Paraíba

Pistola Taurus 24/7 com a cápsula não ejetada após disparo, outro defeito comum no modelo (Foto: Reprodução/El País)

Alguns compram armas para trabalhar porque as fornecidas pelo Estado podem disparar mesmo travadas

A informação sobre o risco que correm policiais paraibanos deverá ser registrada formalmente em inquérito do Núcleo de Controle Externo da Atividade Policial (Ncap), do Ministério Público da Paraíba, quando o promotor de Justiça Túlio Cesar Fernandes Neves começar a ouvir ainda esta semana depoimentos de quem informalmente lhe relatou defeitos em armas da Taurus.

Defeitos como aquele que quase matou um sargento da Polícia Militar em novembro de 2017. Ele foi baleado acidentalmente nas costas quando tentava prender ao cinto uma pistola pistola 638 da Taurus. O incidente ocorreu dentro de uma residência de familiares do PM em Santa Rita.

Na época, o tenente-coronel Pablo Cunha, comandante do 7º Batalhão da PM, unidade de lotação da vítima, disse à imprensa que os problemas com os armamentos produzidos pela Taurus eram “recorrentes”, revelando ainda que ele mesmo arriscou-se seriamente com arma defeituosa ao sofrer tentativa de assalto. “Elas disparam sozinhas e quando precisam disparar, não disparam”, afirmou, sem entrar em detalhes.

Dramas semelhantes vêm a público no Brasil desde 2012, ano em que avolumaram-se denúncias de ‘acidentes’ com pistolas, revólveres e submetralhadoras da Taurus. Quatro anos depois, o Ministério Público Federal (MPF) ajuizou ação pública contra a empresa, pedindo R$ 40 milhões de indenizações por danos coletivos.

A Justiça não deu ganho de causa ao MPF, mas também em 2016 o Exército permitiu a importação de armas (até então proibida) pela Polícia Militar de São Paulo, que comprou mais de 5 mil pistolas a concorrentes internacionais da Taurus como a austríaca Glock – a preferida de policiais da Paraíba mais precavidos – e a italiana Beretta.

O promotor Túlio Fernandes admite ingressar na Justiça com ação semelhante à do MPF caso as investigações, que incluem oitiva de policiais, perícias etc. confirmem risco de morte de usuários das armas Taurus por defeitos os mais variados que já teriam matado ou ferido mais de 500 pessoas em todo o país nos últimos seis anos.

Segundo reportagem do jornal El País publicada em abril deste ano, no YouTube (veja o vídeo abaixo) “policiais e membros de clubes de tiro começaram a postar vídeos das pistolas atirando sozinhas, armas em modo tiro único que disparavam rajadas, e uma série de outros defeitos graves, como a não ejeção da cápsula após o disparo – que inutiliza a arma – e o travamento da pistola após alguns tiros”.

Por essas e tantas outras, o Ncap publicou edital na quinta-feira (9) concitando membros das Polícias Civil e Militar da Paraíba a colaborarem com a investigação, contando aos promotores de Justiça do órgão o que sabem sobre as falhas da Taurus. Para obter o maior número de depoimentos possível, Túlio pretende, inclusive, pedir apoio às entidades representativas dos policiais no sentido de divulgarem o chamamento e a relevância do trabalho do Ministério Público.

Taurus já recebeu mais de R$ 7 milhões do Estado

O blog tentou colher posicionamento ou informações da Secretaria Estadual de Segurança e Defesa Social (Seds) sobre problemas com as armas da Taurus. Recebeu orientação de procurar Carlos Alberto Ferreira da Silva, gerente de Armas e Munições do órgão, a quem foram enviadas as seguintes questões na sexta-feira (10):

  • (1) quais os problemas que estariam ocorrendo com armas Taurus usadas pela Polícia Civil da Paraíba, (2) se a Secretaria tomou ou vai tomar alguma providência relacionada ao suposto fato, (3) se a Taurus ainda fornece armas para o Estado e (4) se essa Gerência vai orientar policiais que tiveram problemas com tais armas a prestarem depoimento ao NCAP do MPPB para relatar falhas que estão sendo investigadas por aquele núcleo desde novembro de 2017.

Nenhuma resposta aconteceu até dez minutos antes da postagem desta matéria, que levou o blog a também pesquisar no Sagres do Tribunal de Contas da Paraíba (TCE-PB) o quanto a Taurus já teria faturado vendendo armas para o governo estadual nos últimos 15 anos. A ferramenta do TCE registra apenas o que foi empenhado e pago de 2003 até 2018. No caso específico do fabricante de armas de fogo, contudo, pagamentos cobrem apenas o período de 2003 a 2016.

Nos 13 anos de compras de armas, o Estado pagou nada menos que R$ 7.088.932,80 à Taurus. Quase 90% desse valor foram pagos na atual gestão do Executivo estadual, como mostram os extratos do Sagres reproduzido abaixo.

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