LULA ISOLA CIRO, por Flávio Lúcio Vieira

Ciro Gomes causa temores a Lula e ao PT (Foto: Carta Capital)

Para manter a hegemonia do PT na esquerda

A Executiva Nacional do PT retirou semana passada a candidatura de Marília Arraes ao Governo de Pernambuco para apoiar o atual governador do PSB, Paulo Câmara. Em troca, o PSB apoiará a reeleição de Fernando Pimentel ao governo de Minas, retirando a candidatura de Márcio Lacerda, ex-prefeito de Belo Horizonte.

Nos dois casos, tanto Marília quanto Lacerda manifestaram sua discordância e protestaram contra a decisão dos caciques de ambos os partidos, que causou grande comoção nos setores de esquerda, sobretudo na base social do PT.

Marília Arraes era candidata favoritíssima à vitória em Pernambuco − e ainda está em primeiro lugar nas pesquisas − por conta do grande desgaste do atual governador, mas, sobretudo, porque ela seria capaz de fundir três imagens poderosas numa só: a de mulher aguerrida, inteligente e de discurso sintonizado com os grandes dilemas do país, além do apelo simbólico de dois mitos pernambucanos: do pernambucano (de nascimento) Lula e Miguel Arraes, de quem Marília é neta.

Existem muitos interesses individuais dos caciques dos dois partidos envolvidos nessa manobra, tanto no PSB quanto no PT. No lado do PT, o acordão interessa a Fernando Pimentel e ao senador Humberto Costa, que deseja ser candidato na chapa do PSB pernambucano. Do lado socialista, o governador Paulo Câmara é o grande beneficiário porque praticamente se livra de uma derrota quase certa.

O objetivo principal dessa manobra planejada por Lula, entretanto, foi impedir o apoio do PSB à candidatura de Ciro Gomes, que detém hoje a maior simpatia da base do PSB, inclusive no Nordeste. Ou seja, o temor de Lula é que com tempo de TV e maior apoio partidário Ciro possa criar amplas condições de tirar o lugar no segundo turno do petista que deve substituí-lo quando o registro de sua candidatura for cassado pelo TSE.

Além disso, o que parece estar em jogo não é apenas a eleição de 2018, mas a hegemonia do PT na esquerda no médio prazo. Com o apoio do PSB, Ciro teria grandes chances de ter também o apoio do PCdoB e, com o discurso que o PT e Lula nunca tiveram coragem de fazer, que confronta abertamente os interesses da banca financeira, Ciro poderia expor as fragilidades políticas e programáticas de Lula e do PT, sempre propensos desde sempre a acordos e conciliações com esses setores.

O medo de Lula certamente tem a ver com possibilidade de Ciro Gomes reestruturar um novo pacto político, algo que, hoje, o PT está longe de conseguir promover em razão da ampla rejeição do empresariado ao partido e a Lula. Com uma política desenvolvimentista, ancorada num novo modelo de financiamento do Estado, sem o qual não há possibilidade de se vislumbrar uma saída sustentada para a crise atual, Ciro poderia passar a aglutinar segmentos importantes da esquerda, inclusive do interior do próprio PT e também do PSB. Se esse programa desse certo, teríamos uma nova reconfiguração da esquerda no Brasil em que o PT não deixaria de existir, claro, mas teria de se reinventar como partido.

Nesse caso, restaria ao PT o combate pela esquerda, algo que – duvido muito – Lula esteja disposto a fazer.

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