Encontros e reencontros com Miguel Levino

Miguel Levino (Foto: Márcio Murilo)

Encontrei Miguel Levino pela primeira vez quando ele entrou na minha galeria de humanos admiráveis. Em alguma data dos sessenta. Era juiz titular da Comarca de Bananeiras e foi meu professor por uma ou duas aulas no Ginásio Estadual da cidade.

Substituía a Professora Olga, sua esposa, titular da cadeira de Português na escola onde aprendi um pouco da matéria, graças ainda ao reforço dos mestres que viriam a seguir – Vital Santa Cruz e Irmã Quitéria. Mas aprendi sozinho a admirar o casal e, por extensão, a família.

Na época, admirava particularmente, com um tanto de inveja, o hoje desembargador Abraham Lincoln, filho mais velho de Olga e Miguel, então menino prodígio que se correspondia com meio mundo em línguas variadas, através de cartas cujos sobrescritos acredito ter visto uma vez.

Nas paredes de memória, como diria o poeta Belchior, guardo vagamente a cena em que um dia tive acesso ao interior da Casa do Juiz, vizinha ao Colégio das Freiras (Doroteias), e lá pude ver, maravilhado, um acervo fantástico de nomes e selos de diversas partes do planeta.

Mas a lembrança mais presente e melhor definida do Doutor Miguel, como o chamavam reverencialmente os jurisdicionados, diz respeito a uma incomum coragem pessoal de que ele era portador. Como prova a história que me acompanha desde a adolescência e que gosto de contar.

Remete a um incidente de rua protagonizado por três filhinhos de papai que resolveram amedrontar moradores de Bananeiras, inclusive policiais lá destacados. O trio ‘deu um show’ no centro da cidade, fazendo seguidos cavalos de pau em uma possante camioneta.

Somente encerraram a exibição quando viram uma Rural atravessada no meio da rua, empatando a passagem (ou a fuga). De dentro do carro desceu um baixinho meio agalegado que deu voz de prisão aos arruaceiros. Os rapazes sentiram no ato que o homem não era de brincadeira. Entregaram-se, sem dar um pio.

Os meliantes tiveram ainda que passar pelo constrangimento de ver razoável plateia se avolumando nas calçadas para assistir com indisfarçável contentamento o Doutor Miguel passar um carão daqueles nos ‘boys’, enquanto aguardava a chegada da Polícia que mandara chamar.

Trinta anos ou mais depois…

Reencontrei Miguel Levino em João Pessoa no decênio passado, quando ele integrou o Conselho de Notáveis do Correio da Paraíba, do qual faziam parte, entre outros, Luiz Augusto Crispim, Glória Rabay, Sandra Moura, Afonso Pereira, Aldo Pagotto, Ruy Eloy, Joacil Pereira e Teotônio Neto, fundador do jornal.

O grupo analisava edições, sugeria pautas e matérias especiais à editoria do Correio, na época sob o comando seguro e competente de Lena Guimarães. Por sugestão dela à direção da empresa, fui escalado para coordenar aquele colegiado que se reunia pelo menos uma vez por mês e, creio, deixou contribuições valiosas para o jornal.

Desse período e tarefa lembro bem que antes de começar os trabalhos do Conselho quase sempre aproximava-me de Miguel Levino para uma prosa curta. Invariavelmente sobre Bananeiras e sua gente, o frio da terrinha e as cachaças de Sula e Mozart, temas meio que obrigatórios nos reencontros de todo abananeirado que se preze.

Depois disso, bem mais recentemente, novo encontro. De repente, lá estava Miguel Levino entre personagens de um livro que andei cometendo por esses dias e venho tentando emplacar em alguma editora. Não poderia ser de outra forma. Ele é dos melhores que se juntam aos bons para elevar a média.

Por todos os méritos e motivos, então, Miguel Levino aparece em capítulo que leva o título de ‘Mariz e outros exemplares’. Outros com os quais já se reencontrou no livro e agora, quem sabe, pode rever lá por cima.

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