ERA ESPERADO, por Gonzaga Rodrigues

LULA (FOTO: SEBASTIÃO MOREIRA/EFE)

Liguei o rádio, na estrada, quando o escore já ia em 4 a 1. Voltei a ligar depois da meia noite, já em casa, quando os ministros já tinham lavado as mãos.

Eu assistia à missa pela glória de Nelma, a tarde da quinta mal se ia, quando um portador da web avisava ao vizinho da ordem de prisão, o réu ainda entalado com a sentença.

“Não esperaram ao menos as 24 horas”, sussurrou-me o vizinho de banco, na igreja, num comentário que podia ter vindo à luz no singular, já que a sentença é de um só juiz.

Mas que chegou por via da concordância ideológica, ditada não pelos termos expressos, mas com o que se associa ao que subsiste em nossa mente, o sistema. “Não esperaram”.

Não se trata de um juiz, nem ao menos de uma corte, mas de uma ordem sistêmica de classe social.

Lula tinha de ser alijado do processo eleitoral. Não por ser de origem pobre, como Lincoln, uma vez que este quando ascendeu já era da elite, mas por ter Lula capturado um lugar historicamente destinado à manutenção do status quo.

Ora, sem pegar em armas, sem o fratricídio próprio das revoluções, a corrupção de Lula, em dez anos, conseguiu intrometer 30 milhões de baixa renda ou de miseráveis no meio da pirâmide social. Gente do nada com renda familiar entre 1,5 mil e 5 mil reais. Sem falar nos flagelados que largaram o flagelo.

E o pior: Vanessa, que aparece numa reportagem da grande imprensa de 2011, está entre outros milhões de jovens das periferias que “começam a desempenhar o papel principal de formadores de opiniões da nova classe média”.

Nova gente que abarrotou as faculdades e institutos e passou a produzir lideranças como a de Marielle Franco, rapidamente fuziladas.

Havia uma preocupação do PT e do próprio PSDB anti-Lula, em entender melhor o que quer essa multidão emergente que acordava cedo, no tempo do desemprego zero, para trabalhar e lotar as faculdades à noite, “comendo macarronada aos domingos ao som de Ivete Sangalo”.

Outra jovem da classe C, Aline Cesário, disse a uma das nossas grandes revistas: “Da periferia, a gente olha para os políticos e vê o que eles não fazem. Nossos pais viam as mesmas coisas e se deixavam levar por pouca coisa”.

Lula julgou que ampliando o mercado com os programas sociais, fazendo as montadoras venderem mais, arranjando mais compradores, do automóvel ao fubá, amainaria a velha luta de classes.

Não chegaria àquilo, é claro, mas haveria de influir na iniciação de uma nova consciência no andar de baixo.

Em vão, o cientista social Chico de Oliveira, emérito da USP, aconselhou a faxineira de casa a não comprar o automóvel. Explicou sabiamente: “Não houve distribuição de renda, mas um aumento de mercado. Você vai amargar no juro e no endividamento. Depois de ouvir todo o meu discurso, ela me perguntou: ‘Por que o senhor pode ter um carro e eu, não?’. Bom, aí eu me calei”.

Preso Lula, se chegar uma pamonha em sua cela com um celular nela embutido, não faltarão, aqui fora, caladinhos, os que gostam de o ouvir. As pesquisas mostram isto, mesmo pagas pelo anti-lulismo.

Normalmente, seja qual for o crime, os líderes mundiais que têm saído da prisão saem muito maiores: o nosso Prestes, Mandela, líderes a vida toda e mais algum tempo.

  • Publicado originalmente em A União de 7 de abril de 2018
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2 Respostas para ERA ESPERADO, por Gonzaga Rodrigues

  1. CARLOS CANDEIA escreveu:

    O texto de Gonzaga Rodrigues não é só excelente pela qualidade literária .O texto é importante por conta do apelo sociológico. Verdadeiro !

  2. RADAR escreveu:

    Chega a ser risível artigos como este.

    Ora, então quando o gestor público faz o que é sua obrigação, gerir a coisa pública, este exercício afigura-se uma autorização, um cheque em branco para roubar, quebrar um País inteiro, quebrar a segunda maior petroleira do Mundo, instalar no cerne do Poder uma quadrilha sofisticada para receber propina. É isso mesmo !? Que exemplo esse Senhor, legou aos nossos filhos e a Nação inteira !? O petralha sequer respeitou o maior cargo da Nação que ocupou.

    Então, é o fez e pode roubar !?

    Querer formar opinião pública, pevertidamente é um absurdo. Querer conotar crimes comuns como se crime político fosse, é manipular as massas e os incautos, os desinformados, em sacrifício da nação. Respeite o Brasil.

    Senhor Jornalista, tenha mais responsabilidade.