POLICIAIS OU GUERREIROS?

por Arnaldo Costa

(Foto: Ilustração/Paraíba Online)

Qualquer pessoa que pesquisar sobre os hinos e canções das Polícias Militares deste país ficará impressionada com os apelos aos valores guerreiros e militarizantes de seus componentes.

Sempre defendi as Polícias Militares continuarem dentro do regime militar, mas não militarizante ou guerreiro. Adjetivos que nada têm a ver com essas Corporações, considerando os tempos atuais e futuros. Prestem bem atenção nos trechos a seguir numa amostragem, baseando-se mais nas Polícias Militares do Nordeste.

Canção da PM do DF
“Se na paz a missão que nós temos
Em velar pela ordem se encerra
Para a luta também marcharemos
Quando a Pátria chamar-nos à guerra”

Hino da PM do Ceará
“Na história pátria surges sobranceira
Ó secular milícia varonil
Pois na guerra também nossa bandeira
Já tremulou em nome do Brasil”

Canção da PM da Bahia
“Centenária milícia de bravos
Altaneira na fé e no ideal
Atravessaram da Pátria as fronteiras
Tuas armas, tua glória, teu fanal”

Da Pátria é também tua história
Criada fostes com a emancipação
O teu sangue regou nosso solo
Ajudastes a edificar a nação”

Canção da PM de Alagoas
“O lema da Polícia Militar
Quer na paz, quer na guerra é lutar
O lema da Polícia Militar
Quer na paz, quer na guerra é lutar”

“Construímos a Pátria amada querida,
Pois conosco nasceu o Brasil
A quem damos alegres a vida
No esforço titã e varonil
Abraçados a nossa bandeira
Somos a Nação Brasileira”

Hino da PM da Paraíba
“Pelo emblema da nossa PM
Que orgulhosos na farda ostentamos
Somos fiéis à democracia
Desta terra que tanto amamos

Combatemos com fé e civismo
Do Nordeste às plagas sulinas
Na defesa da Pátria querida
Ao rangido das nossas botinas

Aos guerreiros da nossa PM
Sem que nossa coragem se iniba
Nossa jura de empenho e trabalho
À pequena e audaz Paraíba”

Canção da PM de Pernambuco
“Polícia Militar de Pernambuco
Bravura e lealdade varonil
Jamais deixaram de cingir-se a fronte
Na guarda e na defesa do Brasil

Lá de cima dos montes sagrados
Guararapes, com sangue e com vida
Camarão e avós indomáveis
Nos legaram esta Pátria querida”

Belos versos, mas são autênticos incitamentos para atos guerreiros, chamamentos para ações bélicas e para defesa ilusória da Pátria! Há uma constante lembrança pelos feitos dessas Corporações em contendas bélicas num passado bem longínquo.

Tais feitos merecem reverência, mas não servem mais como parâmetros ou referência para as atuais e futuras atividades das Polícias Militares e dos Corpos de Bombeiros Militares.

É palpável a carência quase que absoluta de palavras ou expressões que incentivem seus componentes para a segurança pública, defesa da ordem pública ou para a proteção da sociedade.

Esses hinos e canções são cantados nos quartéis, nas Academias e nos Centros de Formação de Praças praticamente todos os dias.

Essa prática, muito exigida às tropas sobre evocação de hinos e canções de conotação guerreira, termina contaminando as mentes dos policiais nos costumes e hábitos no interior dos quartéis. Isso também ocorre no exercício de suas atividades diárias em contato com o público em geral, o que é mais grave. E esse público não está nos campos de guerra nem os eventuais fora da lei são forçosamente inimigos da Pátria. Não há a ideia de exterminar inimigos.

Palavras ou expressões como “guerra feroz”, “para luta marcharemos”, “pela Pátria lutar”, “combatendo o inimigo”, “houver sangue e batalha”, “aos guerreiros da…”, “ao rangido das nossas botinas”, “choque feroz da batalha” e outras similares só confundem e em nada contribuem para as atuais missões constitucionais das Polícias Militares que são a “…de policia ostensiva e a preservação da ordem pública” (a).

Às Polícias Militares não cabem “a defesa da Pátria querida” ou “quando a Pátria chamar-nos à guerra”. Tais missões cabem e caberão sempre às nossas Forças Armadas que “…destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem” (b).

Alegar-se-ia que esses hinos e canções por serem históricos não poderiam ser simplesmente esquecidos ou eliminados. Concordo, mas por que não criar hinos e canções contemporâneos para as atuais Polícias Militares que querem acompanhar a evolução dos tempos? Até a nossa Constituição Federal é modificada quase todos os dias, visando sua adequação.

A sociedade, como um todo, não precisa de guerreiros nas ruas. O policial não combate inimigos da Pátria, mas se empenha para proteger a sociedade pela incolumidade das pessoas e do patrimônio. O público clama por policiais conscientes de suas missões em defesa da integridade física e patrimonial dos cidadãos. E dentro dos limites da lei e dos direitos humanos.
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(a) Art. 144, § 5º da Constituição Federal.
(b) Art. 142, caput.

• O autor é  Professor universitário, Coronel R/R da PM, Pós-Graduado em Filosofia

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Uma resposta para POLICIAIS OU GUERREIROS?

  1. GUSTAVO SOUSA escreveu:

    Essas referências, além da base histórica, estão ancoradas também na Constituição federal, que diz que “As polícias militares e os corpos de bombeiros militares, forças auxiliares e reserva do Exército, subordinam-se, juntamente com as polícias civis, aos Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios.” (art. 144, § 6º )