O REGRESSISMO NO PODER, por Flávio Lúcio Vieira

Michel Temer, ladeado por Moreira Franco e Elizeu Padilha (Foto: Marcelo Camargo/Aldeia Global)

Um ano e meio depois do afastamento de Dilma Rousseff da Presidência da República por um golpe parlamentar, levado à frente por um condomínio de partidos e entidades empresariais − com destaque para a Fiesp − e, sobretudo, pelas grandes empresas de comunicação − com destaque para a Rede Globo, − o que ficou de aprendizado para a sociedade brasileira depois desse episódio que, ainda por muitos anos, produzirá nefastas consequências politicas e institucionais para o país?

Podemos começar pelo retrocesso – vejam só! – no plano do combate à corrupção. A volta das nomeações para as direções da Polícia Federal e do Ministério Público da União (MPU), este chefiado pelo procurador-geral da República, de alinhados politicamente com o presidente de plantão, ocorridas recentemente, são apenas dois episódios que demonstram as intenções regressistas do golpe de 2016.

No caso da Procuradoria-Geral da República (PGR), a escolha da segunda colocada na eleição direta realizada pelos procuradores, Raquel Dodge, antecedida por encontros no Jaburu antes de ser nomeada por Michel Temer, corrobora que o bloco de partidos que comandam hoje a República está mais de olho no retrovisor de impunidade do que prestando atenção no futuro do país.

Isso depois de 13 anos em que a PGR experimentou uma autonomia sem precedentes na atuação da instituição, tendo se acostumado a eleger o procurador-geral da República e nomeado o mais votado, o que acabou por afastar, pelo visto temporariamente, o fantasma do “engavetador-geral da República” dos anos FHC, de triste memória.

No caso da PF, a nomeação recente de Fernando Segóvia para o cargo de diretor-geral da Polícia Federal aprofunda ainda mais essa tendência regressista. Para não deixar nenhuma dúvida a respeito das intenções pouco republicanas de Segóvia, a primeira declaração do delegado – indicado, segundo as más línguas, por José Sarney – foi esta:

“Uma única mala [de R$ 500 mil reais!] talvez não desse toda a materialidade para apontar se houve ou não crime, e quais os partícipes”.

E isso mesmo depois de tudo que precedeu a prisão do deputado Rocha Lures, o mesmo mencionado por Temer a Wesley Batista no fatídico encontro às escondidas na residência oficial.

Enfim, o resultado da queda de Dilma Rousseff – cuja condição ética e moral até hoje permanece incólume – no campo do combate à corrupção é a volta ao centro do poder das práticas mais deploráveis que a sociedade brasileira, ou, pelo menos, parte dela, dizia rejeitar, sobretudo aqueles que bateram panelas nos bairros nobres das capitais brasileiras e foram às ruas em domingos ensolarados defender a substituição de Dilma Rousseff por Michel Temer.

O silêncio que impera hoje nas varandas desses bairros e nas ruas mostra apenas que o cinismo era a arma que movia essas pessoas e não um desejo genuíno de mudar o país para melhor. Aliás, em geral, foram as mesmas pessoas que votaram em Aécio Neves – e hoje se dizem “enganadas e decepcionadas” – mesmo com todos os alertas a respeito do envolvimento do tucano mineiro, que teve mais de 50 milhões de votos, com “listas de Furnas”, aeroportos construídos com recursos públicos em propriedades da família, agressões, bebedeiras e direção sob efeito de álcool, com os documentos do veículo e Carteira de Motorista, ambos vencidos.

Em próximas colunas eu volto a comentar a entrega do Pré-Sal.

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