QUANDO A POLÍTICA É MOVIDA A RANCOR, por Flávio Lúcio Vieira

Cartaxo posou de estrela na convenção do PSDB (Foto: Paraíba Rádioblog)

A convenção do PSDB do último sábado (12) causou tal oba-oba em setores da imprensa paraibana que o evento tucano acabou por dar a impressão de ter sido um ato de lançamento da candidatura a governador de Luciano Cartaxo.

Apesar de ter pouco acrescentado em termos de definição sobre o que se propalou como unidade das oposições em torno de Luciano Cartaxo – José Maranhão confirmou a candidatura e Romero Rodrigues não anunciou sua desistência, – é pouco provável que a convenção dos sonhos do prefeito pessoense possa ser anunciada com a antecedência desejada, ou seja, até janeiro.

O saldo da “convenção tucana” organizada e realizada em João Pessoa por um cassista-hoje-também-cartaxista- de-carteirinha, Ruy Carneiro, é outro: a redução da figura de Cássio Cunha Lima e do seu partido, o PSDB, a meras linhas auxiliares de outras forças e lideranças políticas.

Não faz muito tempo, haverá quem se lembre, Cássio era apontado como o “grande responsável” pela vitória de Ricardo Coutinho, em 2010. Nos quatros anos seguintes à posse de RC, os seguidores de Cássio e ele próprio consideraram ser apenas uma questão de tempo para a sua inexorável e triunfal volta ao Palácio da Redenção na eleição de 2014.

Pura ilusão de ótica. Mesmo com a experiência política acumulada, Cássio não se apercebera do essencial, como já apontamos mais de uma vez: que o eleitorado paraibano havia mudado de perfil e que tinha novas exigências quanto às lideranças que ocupam cargos executivos, com especial relevo para suas práticas administrativas.

Cássio provavelmente achou que um arranjo entre as famílias que por décadas mandaram na política paraibana seria suficiente para leva-lo a reassumir o governo estadual, e acabou por repetir o mesmo erro que José Maranhão já havia cometido em 2010. RC venceu o ex-imbatível Cássio com o apoio de apenas seis deputados estaduais.

Com aquela derrota ficaram expostos os sinais de que a decadência política de Cássio estava em processo, mas ninguém imaginava que ela seria tão acelerada – sobretudo depois que o PSDB e seu presidente, Aécio Neves, caíram em desgraça.

E a convenção tucana de sábado serviu para demonstrar​ antes de mais nada isso: ambos (PSDB e Cássio) se tornaram, por uma questão de sobrevivência, bate-esteiras de Luciano Cartaxo. De Luciano Cartaxo!

Cássio faz com Romero o mesmo que fez com Cícero

A fritura em fogo brando a que Romero Rodrigues é submetido, hoje, é a mesma a que Cássio também submeteu Cícero Lucena, tanto em 2010 quanto em 2014.

Romero é prefeito da segunda maior cidade do Estado, uma cidade que tem a tradição de ser uma referência politica para o eleitorado de boa parte do interior paraibano. E Romero não tem nem de longe o desgaste que Cássio acumulou nas duas últimas décadas, e, ao que consta, faz uma administração no mesmo nível da de Cartaxo, em João Pessoa – talvez melhor, sem estar envolvida em nenhum escândalo de corrupção.

Além disso, Romero é da geração política política de Cartaxo, mas com uma trajetória mais próxima e identificada com uma parte do eleitorado “liberal” que os tucanos pretendem representar.

Em uma política não movida a rancor e obsessões, Romero seria a opção óbvia do PSDB, que tem máquina (os tucanos governam ou tem aliados governando grandes cidades da Paraíba), além de muito mais tradição política no Estado.

Para derrotar RC, o PSDB vai abdicar desse patrimônio político, como se Luciano Cartaxo fosse mesmo confiável a ponto de valer o sacrifício.

É bom não esquecer que foi movido por essa lógica, digamos, fidagal, que Cássio deixou de apoiar Cícero Lucena, em 2010, para apoiar Ricardo Coutinho, daquela vez para derrotar José Maranhão.

Como boa linha auxiliar, agora ele pretende apoiar Cartaxo para derrotar RC. Cássio não compreende, mais uma vez, que uma vitória de Cartaxo, ele e o PSDB serão empurrados mais ainda para a periferia da política paraibana, porque RC aglutinará a oposição e Cartaxo avançará sobre o que ainda resta de cassismo.

Sem Cássio, sem Romero, sem PSDB, o que sobra para Cartaxo? Ou o receio de Cássio é exatamente esse mesmo, ou seja, revelar os pés de barro que ele tem e que ainda não foram revelados? Os movimentos de Ruy Carneiro – e mesmo do prefeito de Patos, Dinaldo Wanderley – tem as digitais de Cássio Cunha Lima, e Romero Rodrigues sabe disso.

2018 será um ano chave, não para o cassismo, cuja decadência é de uma visibilidade solar, mas para o bloco que, desde Ronaldo Cunha Lima, foi capaz de aglutinar.

Esse espólio deixado por Ronaldo, e que Cássio não foi capaz de dar continuidade, parte dele primeiro foi entregue de bandeja a RC. Caso eleito, alguém tem dúvida que Cartaxo abocanhe o outro naco?

Talvez Romero Rodrigues seja o último sopro de vida dessa banda do ronaldismo.

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