O PT na encruzilhada

(Ilustração: Tanta Coisa!)

Por Flávio Lúcio Vieira

Neste domingo (9), os filiados do PT vão às urnas em todo o Brasil para escolher suas direções estaduais e municipais. Para muitos petistas, não se trata de uma eleição qualquer.

O PT que sairá das urnas amanhã terá dois caminhos: o de ratificar a trajetória recente de afastamento dos movimentos sociais e de suas bandeiras históricas, o partido dirigido por burocratas a serviço de gabinetes – de vereador, prefeito, deputado, senador ou governador, − ou o partido que, ao longo de sua trajetória, foi capaz de atrair, ou pelo menos colocar sob sua influência, enormes contingentes de jovens e intelectuais, interessados em mudar o Brasil de verdade, e fez do PT um dos maiores e mais influentes partidos de esquerda do Ocidente.

Talvez em nenhum outro estado o conflito esboçado acima esteja tão em pauta como na Paraíba, onde dois grupos com trajetórias recentes distintas disputam o coração dos filiados petistas.

De um lado, o grupo liderando pelo atual presidente, Charliton Machado, que apoia Jackson Macedo. Macedo vem dos movimentos de moradia e do movimento estudantil, foi presidente do DCE da UFPB e, recentemente, ocupou o cargo se Secretário de Transparência da administração do então também petista Luciano Cartaxo na Prefeitura de João Pessoa.

Ao contrário de muitos outros petistas com longo histórico de militância partidária, como Adalberto Fulgêncio, Idelvânio Macedo e Lucius Fabiane, que trocaram suas histórias pelos cargos que ainda hoje ocupam na Prefeitura, Jackson Macedo, um simples morador do bairro de Mangabeira, preferiu seguir a orientação do partido, entregar o cargo e manter a dignidade de sua história pessoal.

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O grupo liderado pelo deputado federal Luiz Couto não anunciou ainda o candidato à Presidência do PT.

Fala-se em Marenilson Batista, que já foi Secretário de Desenvolvimento da Agropecuária e Pesca do primeiro governo Ricardo Coutinho. Marenilson foi indicado à revelia do PT pelo deputado Luiz Couto, que há mais de sete anos resolveu não seguir as decisões partidárias e votar não com o seu partido, mas alinhado aos interesses políticos e eleitorais do PSB do governador Ricardo Coutinho.

A chapa apoiada por Luiz Couto conta ainda com os deputados estaduais petistas Anísio Maia e Frei Anastácio. Entre 2011 e meados de 2014, os dois fizeram dura oposição ao governo RC, especialmente Anísio Maia, à época um empedernido cartaxista, que liderava a bancada estadual na Assembleia Legislativa.

Os dois deputados estão incorporados de mala-e-cuia à bancada de Ricardo Coutinho na AL, e mais uma vez sem o aval da direção partidária, que, ao que se sabe, nunca decidiu pela participação no governo.

Anísio definiu assim o embate petista que acontece no próximo domingo: “De um lado temos um grupo político majoritário que é responsável pela má condução do partido nos últimos anos, nos levando à maior crise de nossa história. Agem como se nada tivessem (sic) acontecido e a única preocupação que têm é continuar com o controle da máquina partidária. De outro lado, encontram-se aqueles que, assim como eu, o deputado Luiz Couto e o deputado Frei Anastácio, querem mudar o PT”.

Não sei direito o que o deputado entende por “má condução”, mas quando li essa passagem divulgada em matéria de sua própria assessoria, foi inevitável não associá-la a um alto grau do cinismo que toma conta da política brasileira e que, infelizmente, atingiu em cheio setores da esquerda.

Pelo que eu sei, Anísio apoio à atual direção petista e foi entusiasta da candidatura e depois da administração do prefeito Luciano Cartaxo, sendo aquinhoado com generosos espaços – leia-se, cargos. Até meados de 2014, vivia às turras com o atual governador, com quem fez um duro embate, até que os interesses do então prefeito, hoje no PSD, se impusessem dentro do PT e produzissem, às véspera de eleição de 2014, uma reviravolta na política e no discurso de Anísio.

Para Anísio Maia, RC tornou-se, de repente, um grande governador, principalmente depois que Cartaxo abandonou o PT e deixou-o sem padrinho.

Ao contrário do que pensa Anísio Maia a respeito das razões da “crise” petista, entretanto, algo muito mais complexo do que um discurso superficial e eleitoreiro em véspera de eleição pode explica-la.

O buraco é mais embaixo e, em parte, tem a ver com a relação do partido com a sociedade e sua base social.

E uma das razões está localizada em uma prática, que se tornou comum, especialmente na Paraíba, de parlamentares e ocupantes de cargos executivos, de subordinar os interesses partidários aos interesses de grupos.

O exemplo de Luciano Cartaxo, que usou o PT da maneira que quis, para depois abandoná-lo, é eloquente o suficiente para não deixar margem para dúvidas a respeito do que afirmo aqui.

O da ex-prefeita de Pombal, Polyana Feitosa também. Ela acabou de anunciar, pela imprensa, sua desfiliação do PT para se filiar ao PSB. Não se deu ao trabalho de sequer escrever um bilhete à direção do partido que fez dela na política o que ela é.

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O alinhamento político dos parlamentares estaduais e federais dentro do PT em torno do projeto e do governo de Ricardo Coutinho não se dá em razão de um legítimo projeto de partido, mas em torno de interesses e estratégias que estão fora do PT, mais especificamente no Palácio da Redenção.

Temos aqui o mais cabal exemplo de um partido de “gabinetes”, onde o que vale, no caso do PT, é o interesse do grupo, não do partido.

Eis uma das principais razões da crise petista. E se a atual direção do PT tem alguma responsabilidade com isso foi o de continuar sendo permissiva com atos de desrespeito às resoluções de suas instâncias, sem nunca, por exemplo, ter sequer aprovado uma advertência contra o deputado Luiz Couto e seus seguidores.

Se o PT quer sobreviver tem de mudar. E mudar para melhor.

  • Flávio Lúcio Vieira 
É BOM ESCLARECER
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3 Respostas para O PT na encruzilhada

  1. Floriano Marques da Silva escreveu:

    * O PT que se intitula partido dos trabalhadores foi o que mais desempregou trabalhadores.
    * O PT está morto politicamente e o povo já mostrou a sua indignação com o PT nas ruas em 2013, 14, 15 e 2016 e; nas eleições de 2016 o povo deu a resposta nas urnas e Lula não conseguiu reeleger nem o filho como vereador em São Bernardo do Campo, não conseguiu eleger o prefeito da cidade de São Bernardo onde reside, não conseguiu eleger o candidato de sua cidade natal Garanhuns, não conseguiu eleger o prefeito do PT em Recife, não conseguiu eleger a presidente da UNE a prefeita de Santos que ficou com apenas 8,5% dos votos.
    * Dentre todos os 27 estados, o PT ganhou as eleições somente no Acre.
    * O PT perdeu até no Nordeste que é reduto de Lula e o PT caiu de 3º para 10º lugar em número de votos no Brasil porque o povo cansou de demagogia, clientelismo, assistencialismo, paternalismo, empreguismo exagerado no serviço público e da corrupção desenfreada que destruiu a economia do Brasil que levará mais de 20 anos para ser reconstruída.
    * Os eleitores se aborreceram da retrógrada e arcaica política do Pão & Circo que usa a fome e a miséria como discurso de palanque. – http://www.florianomarques.com.br/site/arquivos/Programas_sociais_do_PT.pdf
    * O povo quer trabalho e dignidade e não esmolas oficiais intituilada Bolsa Família..
    http://www.florianomarques.com.br/site/arquivos/programa_bolsa_familia_e_a_politica_do_pao_e_circo.pdf
    * Com certeza, em 2018 o PT será extinto pelo voto popular.

  2. Newton Mota escreveu:

    Caro Flávio, o PT nunca foi um partido de esquerda. Nunca ! Agora, sempre foi uma agremiação que usou o discurso de esquerda de conformidade com a sua conveniência. É o partido das conveniências e jamais de esquerda. Na placa da sua sede está escrita a seguinte pérola: ” Nossos valores são eternos”. Mas, quais valores. Nunca representou os trabalhadores na sua plenitude(somente na conveniência), e basta lembrar a reforma da previdência de 2008, quando meteu de goela abaixo dos trabalhadores( na porrada!), a continuidade da contribuição previdenciária dos aposentados até hoje. Somos único país no Mundo, que mesmo aposentado, continuamos a pagar a previdência. É um partido que envergonha os trabalhadores e para o bem de todos, deveria mudar de nome ou até ser extinto, mas jamais continuar a usar o nome dos honrados e dignos trabalhadores brasileiros. O PT é a negação de tudo que é sério e honesto no Brasil. O PT nunca assumiu seus erros e até hoje defende aqueles que assaltaram os cofres públicos. Institucionalizou a mentira como fundamento de suas pregações.

  3. Eulália Peixoto escreveu:

    Vou me deter, em apenas dizer : conheci Flávio Lucio na época da faculdade,ele, nos movimentos estudantis,eu também mas, era do CA de História,más, ia as ruas também!no momento,por esta sob efeitos de medicamentos,e não que o texto seja longo, mais, não vou opinar, porque, tenho que ler e reler, para não responde sobre um tema como esse “POLITICA” ,sem noçao,não farei isso, não estou aqui me abstendo de Da a minha opinião,mas, pelos motivos acima citados. É um assunto sério,principalmente no momento pelo qual o nosso país está passando…espero em breve está bem para, contribuir com essa coluna,