Ameaças motivam troca de casa por apartamento

Edifício Manoel Pires, no Centro da Capital (Foto: Wikimedia Commons)

Edifício Manoel Pires, no Centro da Capital (Foto: Wikimedia Commons)

Meus pais aderiram ao apartamento quando notaram o que chamam de pouca utilidade dos espaços abundantes de uma casa. Com os filhos casando ou estudando fora, então, a casa ficou imensa para eles. Fora quarto de dormir, banheiro, sala de tevê e a cozinha ampla o bastante para caber mesa de refeição, os demais cômodos foram declarados inúteis pelo casal.

Estimo que essa percepção o Professor Vicente e Dona Aparecida tiveram por volta de 1978, quando moravam na Rua Maestro Osvaldo Evaristo, no Bairro dos Estados, João Pessoa. A partir daí, passaram a questionar para que servia mesmo aquele quarto-escritório vizinho à lavanderia da dependência de empregada que eles mandaram construir no fundo do quintal.

A propósito, você aí, que lê isto aqui (espero) e ainda mora em uma casa, lembra quantas vezes nos últimos 12 meses o amigo ou a amiga frequentou o quintal? Pergunto assim porque também me convenci de uma coisa: salvo se for daqueles com dimensões de chácara, onde dá gosto de plantar e até cuidar das plantas, quintal em casa de cidade grande ou é aterrado e cimentado ou é esquecido pelos moradores.

Tiro por mim. No meu último endereço de solteiro, depois que terminei a faculdade e não precisei mais do quarto-escritório para pegar algum livro, deixei de botar os pés na terra daquele quintal. A não ser, vez por outra, para ajudar a colocar ou tirar a roupa estendida no varal ou lavar eu mesmo, na pia da lavanderia da área de serviço, alguma cueca mais denunciativa.

Do Bairro dos Estados meus pais se mudaram para um apartamento em Tambaú, bairro que dá o mesmo nome à praia mais famosa da Paraíba. Foram pioneiros na ocupação da unidade que lhes cabia num prédio chamado Soriedem, numa rua chamada Maria Alice.

Soriedem, para quem não notou de imediato, é Medeiros ao contrário. Medeiros, que me perdoe se não lhe guardei o prenome, foi o construtor do Soriedem. Perdeu a oportunidade de batizar a obra com seu próprio nome. Edifício Medeiros ou Residencial Medeiros. Penso que ficaria mais bonito ou menos feio.
Besteira. Vamos aos próximos endereços.

Alvo de campana

Casadinho de novo, continuei fiel ao chão, passando a morar em casa do Conjunto dos Jornalistas, que a Cehap, a Cohab paraibana, construiu num terreno imprensado entre o Colégio das Doroteias, o Centro de Treinamento de Miramar (que já foi um seminário católico) e o Castelo Branco, outro conjunto que virou bairro.

Ainda carregando Bananeiras no jeito de ser e na saudade, resisti o quanto pude a me ver ‘engaiolado’, como diria o Doutor Paulo Soares, outro que acabou se rendendo à praticidade e aparente maior segurança de um apartamento.

Depois do Castelo, andei morando no Conjunto Anatólia, parte do grande Conjunto dos Bancários, na zona sul da cidade, e depois mudei para uma casa na rua Clarisse Justa, bairro da Torre, que é dos bairros mais próximos do Centro.

Na casa da Clarisse fiquei até o dia em que um cara que vivia me ameaçando por telefone (decorrência do meu ofício de jornalista) convenceu-me de que eu e minha família éramos alvos ou presas fáceis.

– Tu tem que levantar e olear aquele portão da tua garagem, cumpade. Toda noite eu vejo a força que tu faz pra botar o carro pra dentro. E como tu demora pra abrir, guardar o carro e fechar tudo outra vez, né? – ironizava o bandido, ao telefone.

De fato, os detalhes fornecidos pelo meliante denunciavam toda a minha vulnerabilidade. Por conta dela, cuidei, então, de procurar apartamento. Encontrei um e mudei ligeirinho. Para o Edifício Manoel Pires, no Parque Solon de Lucena, hoje também chamado de Parque da Lagoa, que todos os nativos têm como o centro do Centro de João Pessoa.

Links para os capítulos anteriores

Mudanças e Moradias. De Bananeiras a João Pessoa

Da casa do Campus ao centro da cidade

Feito Gonzaga, também tenho um sítio que anda comigo

Na última casa em Bananeiras, a mocinha da casa foge para casar

Na casa de conjunto, no escurinho da mangueira

Do vício de fumar à rejeição da menina do Liceu

Tragédia familiar força mudança para o centro da cidade

 

 

É BOM ESCLARECER
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Uma resposta para Ameaças motivam troca de casa por apartamento

  1. Vinicius escreveu:

    Rubens, creio que o Soriedem (que fica na Professora Maria Sales), foi erguido pelo mesmo construtor do prédio que fica na esquina anterior, de Professora Maria Sales e Helena Meira Lima. O nome desse prédio, salvo engano, é Antonio Medeiros, levando assim um nome da família. Cresci alí perto, e era isso que nos falavam.