Ulisses Guimarães, Cidadão Pessoense, por Francisco Barreto

Ulysses Guimarães, ao lado de Humberto Lucena (Foto: Arquivo/super.abril.com.br)

Ulysses Guimarães, ao lado de Humberto Lucena (Foto: Arquivo/super.abril.com.br)

Meu estimado Rubens,

Recordar é mais do que viver. É ter o passado morando ao lado do coração. Hoje, mais do que ontem, lembro-me de Dr. Ulysses Guimarães. Da sua falta, da sua grandeza, do seu exemplo da dignidade pública neste período republicano de tanta miséria política.

Lembro-me de Dr. Ulysses, hoje, quando é o dia de seu centenário. Lembro-me dele de quando fui Vereador em João Pessoa. Em Julho de 1992, tive a suprema honra, num dos momentos mais extraordinários de meu mandato tão aviltado, de conceder ao Dr. Ulysses o título de Cidadão Pessoense. Dois meses antes de sua morte.

Nunca tive missão tão digna como representante desta cidade. Discursei, emocionado:

Dr. Ulysses, o senhor é um dos oráculos da democracia brasileira E um dia, Dr. Ulysses, se quiserem escrever algo sobre o senhor, nada mais simples. Entre a data de seu nascimento e o da sua morte, dirão que teve todos o seus dias dedicados ao Brasil. O senhor nunca faltou ao Brasil, mas o Brasil lhe faltou.

O mar o abraçou dois meses depois. Só o mar poderia ser o tumulo perpétuo de Dr. Ulysses.

Ao discursar naquela sessão, agradeceu solenemente à cidade de João Pessoa. Entre outras palavras, dizendo assim:

Tenho inveja por alegria do mandato de Vereador, nunca o fui, por sempre achar que era a disputa mais ferrenha e mais difícil () Tenho uma dívida com a Paraíba () Foi aos pés da estátua de Epitácio Pessoa, quando estudante do Largo do São Francisco, precisamente aqui despertei que a minha vocação era fazer e ser político e não literato.

Ao encerrar o seu emocionado discurso, generosamente pediu cópia do meu discurso. “Quero levar para Mora e guardar nos meus arquivos como um dos discursos que me emocionou profundamente”, revelou.

Senti-me honrado pelo seu exagero e lhe falei: “Dr. Ulysses, tenha dó de mim. Sou, como disse um dia o grande Eça de Queiró, tão caro à sua cultura literária, um pobre homem da Póvoa do Varzim”.

Ainda o vejo, caminhando com Humberto, Mariz, Ronaldo e outros pela calçada da Praça João Pessoa. Caminhou dias depois para descer ao mar e subir ao Olimpo, onde lhe aguardava a cadeira reservada ao representante da dignidade e da pureza da raça brasileira.

Francisco Barreto

É BOM ESCLARECER
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Uma resposta para Ulisses Guimarães, Cidadão Pessoense, por Francisco Barreto

  1. Bonito artigo meu caro e dileto amigo Rubens Nóbrega, Lamentável é não sabermos nós até hoje a causa e os porquês do desaparecimento do grande Ulysses. Quem e o que derrubou aquele helicoptero? Onde foi parar o corpo do Ulysses? A quem interessaria o desaparecimento do “Senhor Diretas”? ou simplesmente “Quem Matou Ulysses Guimarães?”. Receba Rubens cordial abraço deste leitor diário de tuas linhas e de teus escritos.