Violência impõe o medo e inibe a solidariedade humana

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(Ilustração: ipcdigital.com)

A violência é tamanha na Paraíba e chegou a um ponto, tanto quanto no resto do país, que pessoas geralmente fraternas e generosas para com o semelhante começam a ter medo de cometer um simples gesto de solidariedade ao próximo. Como, por exemplo, tentar ajudar alguém que aparente estar passando mal em algum lugar público, mas de pouco movimento.

Aconteceu semana passada com a jornalista Marcela Sitônio. O receio de cair numa possível armadilha foi mais forte que a vontade de socorrer uma senhora que demonstrava sofrimento causada por alguma dor, um desconforto enorme. Ou coisa pior. Por não ter feito o que em outros tempos seria trivial para alguém como ela, minutos após aquela cena, em pleno domingo (18) a colega desabafou no seu espaço de Facebook.

No seu desabafo, restou patente o remorso ou sentimento de culpa por não ter superado o temor de sofrer um assalto. Medo compreensível, diga-se. Afinal, ela não seria a primeira nem a última vítima de tantos golpes nos quais mulheres de meia idade ou de idade avançada são usadas como isca por bandidos. A postagem de Marcela provocou um intenso debate na sua comunidade de amigos no Face. Com relatos de situações bem parecidas com aquela vivenciada pela jornalista.

Foram mais de 200 comentários, no domingo (18). Valeria a pena ler todos. Porque todos compartilham o mesmo cuidado, o mesmo temor, o mesmo medo, enfim. O blog reproduz uns poucos, adiante. Começando, óbvio, pelo que escreveu Marcela Sitônio, a quem foi solicitada permissão para tanto. A ideia é mostrar o quanto a violência incontida, impune e crescente em nossa cidade, em nosso estado e em nosso país está mudando – ou eliminando – atitudes antes tão comuns entre nós.

Atitudes como dar a quem mais precisa “todo amor que houver nesta vida”, tal e qual cantaria e faria o poeta Cazuza. Tal e qual faria qualquer um de nós no tempo de Cazuza.

Assim escreveu Marcela Sitônio

Estou me sentindo a pior das criaturas. Estava indo para a casa da minha mãe, no Bessa, e vi uma senhora encostada na parede de um edifício, aparentemente passando mal. Dei ré, buzinei e perguntei qual o problema? Com a cara de choro, respondeu-me que estava muito cansada. Quando pensei em sair do carro para ajudá-la, lembrei imediatamente do caso de um amigo do meu filho que parou para socorrer um idoso e acabou sendo assaltado por dois caras que surgiram, repentinamente, em uma moto. Tratei de ir embora rápido e deixei a mulher lá. Entre a vontade de ajudar e o medo, o segundo prevaleceu. Infelizmente, estamos ficando cada vez mais brutalizados pela violência.

Veja agora alguns comentários

  • Aconteceu comigo… Um homem caído na calçada…Liguei para o Samu, fiquei olhando, sem coragem de me aproximar. Na linha o atendente perguntava: qual a idade? Está respirando, Tem algum ferimento? Sei não moço, acho que ele já morreu… Nesse instante, outras pessoas mais corajosas do que eu se aproximariam e descobriram que o cidadão estendido no chão estava vivinho da silva, curtindo uma bela ressaca. Ufa! que alívio!
  • Infelizmente, essa é a realidade que vivemos hoje em dia. Ontem, saindo de Natal para João Pessoa, vi dois rapazes com placas pedindo carona para JP. Pareciam pessoas boas, mas, como quem vê cara não vê coração e a violência hoje, passei direto.
  • Eu passei por isso em frente ao Lar da Providência Marcela e agi como vc, o pior é que a gente fica mal mesmo.
  • É lamentável um fato desta natureza, chegamos a este ponto, aí eu pergunto, como será daqui pra frente?
  • Pois é!! Vai saber!! Infelizmente o mundo tá de cabeça pra baixo tá difícil saber quem é quem
  • Marcela Xavier Sitônio Lucena, ‘hoje’, vivemos num mundo distante do olhar, do físico, do abraçar. Estamos muitos distantes do compreender!
  • Que triste. Muitas vezes pensamos em ajudar o próximo, mas com tanta violência que o mundo nos oferece, tornamos covardes do nosso próprio medo. Mais não se sinta assim, porque Deus sabe de suas intenções.
  • Marcela Xavier Sitônio Lucena, eu passei ontem pelo Bessa, e vi uma senhora encostada num muro branco!!!! Também não parei pelo mesmo motivo!!!
  • É muita coincidência pra ser obra do acaso
  • Questão de sobrevivência ou uma espécie de legítima defesa e até estado de necessidade. Pode parecer um ato cruel mas é uma atitude defensiva que o índice alarmante de violência nos faz tomar diante de determinadas circunstâncias.
  • Marcela Xavier Sitônio Lucena, existe uma pessoa assim por estas bandas e que vem fazendo isso aí mesmo! Uma semana dessas passamos pela mesma situação, só que não parei nem pra perguntar. Infelizmente, os casos de roubos não me encorajaram a descer do carro e ajudar a senhora.
  • Marcela Xavier Sitônio Lucena, essa senhorinha já é figura conhecida nas imediações do Bairro dos Estados/Jardim 13 de maio. Já avistamos por três vezes e se portando na mesma maneira: encostada num muro, aparentemente fadigada. A sensação foi a mesma que a sua e por pouco, não a abordamos. O sentimento que prevaleceu foi do nosso bem estar e não da caridade, momentaneamente pela situação em que vivenciamos. Infelizmente!
  • Acho q vc fez o certo
  • Existe uma quadrilha agindo assim aqui no Bessa
  • Marcela Xavier Sitônio Lucena nesses casos de pessoas em situação que pareça precisar de ajuda, a recomendação é não parar e chamar a policia informando a situação, caso se trate de um fato real a pessoa vai ter a ajuda da polícia. Infelizmente, não dá para parar.
É BOM ESCLARECER
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3 Respostas para Violência impõe o medo e inibe a solidariedade humana

  1. feuber escreveu:

    antes de LULA assumir, dormíamos de portas abertas em 99% do território brasileiro.

  2. Marcelo Sitônio escreveu:

    Obrigada Rubens Nóbrega! Dedicar um espaço no seu blog para repercutir um posto meu, é uma honra para mim, principalmente, por se tratar de um assunto série que está paralisando a todos, brasileiros e brasileiras: A violência.

  3. antonio carlos ferreira de melo escreveu:

    É triste, mas, infelizmente chegamos ao ponto de cada um por sí e só Deus por todos.