O exemplo que vem da Argentina

Uriel e sua Professora, Alexandra, em sala de aula (Foto: Clarín)

Uriel e sua Professora, Alejandra, em sala de aula (Foto: Clarín)

O Portal Acadêmico (portalacademico.uol.com.br) publicou neste sábado (2) “a incomum história de Uriel, de 9 anos”, menino da zona rural de Bragado, cidade da província de Buenos Aires, a 220 quilômetros da capital argentina, que foi o único aluno da Escola N° 26 de Paraje La Criolla por seis meses. Mas neste segundo semestre ele será transferido para uma instituição próxima, conforme anunciou na quinta-feira (30/6) Alejandro Finocchiaro, diretor geral de Cultura e Educação da província.

A escola de Uriel chegou a ter seis alunos – contando com ele – no final do ano passado. Na matrícula deste ano, contudo, apenas ele e uma menina chamada Bárbara pediram matrícula, mas ela saiu e foi estudar em uma escola perto onde o irmão mais novo estuda. Segundo o jornal argentino Clarín, a falta de alunos na Escola nº 26 de Paraje La Criolla tem uma razão perfeitamente compreensível: na região habitam apenas 30 pessoas, população que restou após as inundações de meados de 2015.

“A escola em si também é um problema. Por causa das chuvas, o prédio perdeu o teto, mesmo assim aluno e professora eram contrários ao fechamento da escola”, informa o jornal, acrescentando uma fala do garoto que explica bem o sentimento dele em relação ao que lhe aconteceu. “A primeira coisa que eu pensei quando fiquei só é que seria muito chato estar na escola, em seguida, eu fiquei com medo pela escola, porque eu tenho amor por ela e não quero ela feche. Meu irmão se formou aqui e eu quero fazer o mesmo”, disse Uriel.

“O sentimento de Uriel é compartilhado pela professora Alejandra. Ela mora na cidade de Bragado e viajava 70 quilômetros todos os dias para dar aulas ao menino, a quem dava carona no caminho da escola. Além da professora, trabalhavam no prédio mais três pessoas: a diretora, e dois funcionários que faziam a manutenção do local. Os apelos de Uriel e Alejandra, porém, não foram atendidos pelas autoridades”, completa a matéria do Clarín.

Uriel será transferido para a Escola N° 20, em ambiente urbano, apenas 3 quilômetros mais distante que a Escola N° 26, e com caminho asfaltado em vez da estrada de terra. Segundo o comunicado, o transporte será custeado pelo Conselho Escolar da província.

Trouxe a história ao blog para mostrar que se fosse na Paraíba administrada por um governo ‘socialista’ ou no São Paulo sob domínio ‘tucano’, Uriel, sua professora e demais servidores da escola nº 26 há muito já teriam sido transferidos. Sem precisar de inundação, teto caindo ou outra desgraça qualquer. Seriam remanejados, engolindo o choro, para quaisquer outros educandários, não importando se perto ou longe, tudo em nome de uma tal de ‘reorganização’ ou de um tal ‘reordenamento’.

Na Paraíba, sob a gestão em curso, mais de 500 escolas foram fechadas em quatro anos porque teriam poucos alunos e precisavam ser “requalificadas”, segundo reiteradas explicações da Secretaria Estadual da Educação. Dessas, cerca de 300 foram reabertas no mesmo período (2011-2014). Mas no mínimo 200 permaneceram fechadas e não se tem notícia de que algum dia reabrirão e voltarão a fazer parte da rede estadual de ensino.

Em nenhum momento desse processo, pelo que pude acompanhar, ouvi alguma autoridade do meio ou mesmo o governador do Estado falar que a requalificação, em vez de fechamento, significasse estimular, ampliar, viabilizar, enfim, novas matrículas. Não soube que tenham desenvolvido qualquer campanha ou apelo junto à comunidade mais próxima dessas escolas para que matriculassem seus filhos. Não ofereceram alternativas que não fosse o fechamento. Mais fácil, mais prático. Sem levar em conta, naturalmente, o sentimento de pertença dos ‘removidos’, ‘reorganizados’, ‘requalificados’ e outros termos ‘bonitos’ que inventam para justificar a indiferença ou incompetência que prejudica muitos.

Por essas e outras, em cinco anos a Paraíba involuiu ou estagnou em muitos dos indicadores de desempenho do ensino público a cargo do Governo do Estado. Todos os índices estão à disposição nas bases de dados do Mec, especialmente do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais). Do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) ao Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), a sensação de paralisia ou regressão é esférica. Onde bater, rola.

 

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